Cavaco replica Passos e diz que Portugal é o país que mais dinheiro deu à Grécia

Presidente da República considera positivo ajustamento das posições gregas, mas não comenta razoabilidade das propostas para evitar "cacofonia".

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Cavaco Silva afirmou estar "descontraído" com o actual cenário político em Portugal ENRIC VIVES RUBIO

Quase uma semana depois de o primeiro-ministro, Passos Coelho, ter afirmado que Portugal é o país da União Europeia que, “em termos de percentagem do seu produto, maior esforço fez de apoio e solidariedade em relação à Grécia”, o Presidente da República afina pelo mesmo diapasão, mostrando assim que, neste assunto, Governo e Presidência estão em sintonia.

“Portugal é um dos países que fez e que irá fazer maiores doações à Grécia. Em termos relativos, Portugal é o país que fez mais doações”, referiu nesta quarta-feira à margem da inauguração do radar meteorológico do Norte, em Arouca. Doações que compreendem o período entre 2012 e 2020, concretizou.

Sem responder directamente à pergunta sobre as críticas de que teria humilhado o povo grego, Cavaco Silva aconselhou a consulta dos documentos oficiais onde constam as transferências feitas para a Grécia, em resultado das suas obrigações que constam das carteiras dos bancos centrais dos países da zona euro, as tais as doações que, sublinhou, “saem directamente dos bolsos dos contribuintes”.

E fez questão de recordar que “Portugal nunca recebeu doações de nenhum país". Antes: "Recebe empréstimos, paga juros e irá fazer reembolsos”. O Presidente da República incluiu no seu discurso o Tratado de Lisboa para lembrar que não se pode fazer o que se quer. Nesse sentido, recuperou a parte do Tratado que diz que “a política económica de cada Estado-membro é matéria de interesse comum de todos, que ninguém pode fazer aquilo que quer sem consultar os outros”.

A visão do Governo e da Presidência da República esbarra, porém, noutros números. Conforme noticiado pelo PÚBLICO, Portugal é um dos países da zona euro que até agora concederam um menor volume de empréstimos à Grécia, em percentagem do PIB e tendo em conta a dimensão da sua população. Isto porque o país foi dispensado dos custos associados à ajuda financeira à Grécia, a partir do momento em que também foi abrangido por um programa da troika. Ou seja, a troika chegou e Portugal não foi obrigado a contribuir com qualquer transferência ou garantia para o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira.

Feitas as contas, em empréstimos bilaterais à Grécia na fase inicial da crise, Portugal contribuiu com cerca de 1100 milhões de euros – atrás de outros países como a Espanha, Itália, França ou Alemanha.

Cavaco Silva não entrou em pormenores sobre as propostas gregas, lembrando que ainda não há ideias concretas escritas, mas mostrou-se satisfeito porque o que está a acontecer está dentro das suas previsões. “Como previa, o governo grego tem vindo a ajustar as suas posições e isso é positivo para que a Grécia possa continuar na zona euro”, referiu.

Recusou, portanto, fazer “julgamentos” e realçou que, em assuntos de política externa, tem de “existir sintonia, em público, entre aquilo que diz o Governo e aquilo que diz o Presidente da República”. Até para evitar qualquer tipo de ruído. “O pior que pode acontecer na defesa dos interesses nacionais é alguma cacofonia entre as instituições, por isso, em público, não faço julgamentos sobre aquilo que pode estar em discussão”, justificou.

A recusa dos 18 países em aceitar as propostas gregas tem, na sua opinião, uma leitura clara, isto é, a percepção de que a aplicação dessas ideias “afectaria negativamente o bem-estar dos seus cidadãos”. “Todos os países unanimemente, independentemente da cor partidária dos governos, não aceitaram as propostas gregas”, lembrou Cavaco Silva, esperando que rapidamente se chegue a um acordo, de forma a “eliminar a incerteza”.

Esta quarta-feira, o Presidente da República esteve em Anadia, inaugurou o Centro Escolar de Sangalhos e visitou o Centro de Alto Rendimento – Velódromo Nacional de Sangalhos, e seguiu para Arouca, onde visitou o Centro de Interpretação das Pedras Parideiras e inaugurou o radar meteorológico do Norte, no alto do Pico do Gralheiro, na Serra da Freita, em Arouca.

É o radar mais moderno e sofisticado do país com uma torre de 43 metros, 13 pisos – o 10.º é um varandim panorâmico aberto ao público – e que permitirá detectar fenómenos adversos ou perigosos com antecedência de três horas. O Norte do país, que estava dependente de dados de quatro radares espanhóis, tem agora o seu próprio equipamento, tecnologicamente mais avançado do que o de Loulé e o de Coruche. A estrutura entrará em funcionamento durante este trimestre e será comandado a partir de Lisboa.

Cavaco Silva gostou do que viu e da tecnologia de ponta que permite ao país preparar-se para a tempestade. “É um dia grande para Arouca, um dia grande para a observação da atmosfera do nosso país”, referiu, sublinhando que o novo radar produzirá “previsões mais rápidas e com maior rigor”.

Assim será. Segundo o presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Jorge Miranda, o radar de Arouca “vai ser capaz de varrer a baixa atmosférica do Norte do país” e, além disso, enviar fotografias de cinco em cinco minutos relativamente à precipitação e de 10 em 10 minutos em relação à velocidade do vento. A ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, acompanhou Cavaco Silva na visita às pedras parideiras e na inauguração do radar, mas não fez declarações públicas.

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