Cavaco diz que se houver crispação "de nada valerá ganhar ou perder eleições"

Portugal tem de se preparar para o fim do programa da troika, em 2014, e os partidos têm que alargar o horizonte para lá dos calendários eleitorais.

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Rui Gaudêncio

Consensos políticos para lá dos calendários eleitorais e medidas urgentes capazes de relançar a economia. O país não está em condições de juntar uma “grave crise política” à crise económico-financeira, disse esta quinta-feira o Presidente da República, no discurso oficial do 39º aniversário do 25 de Abril.

“É essencial alcançar um consenso político alargado que garanta que, quaisquer que sejam as concepções político-ideológicas, quaisquer que sejam os partidos que se encontrem no governo, o país depois de encerrado o actual ciclo do programa de ajustamento, adoptará políticas compatíveis com as regras fixadas no Tratado Orçamental que Portugal subscreveu”, afirmou Cavaco Silva, no Parlamento.

Perante o Governo e todas as bancadas parlamentares, na sessão solene do dia da Liberdade, o chefe de Estado pediu consensos e deixou um aviso implícito ao PS: “Se se persistir numa versão imediatista, se prevalecer uma lógica de crispação política em torno de questões que pouco dizem aos portugueses, de nada valerá ganhar ou perder eleições, de nada valerá integrar o governo ou estar na oposição”.

Cavaco Silva insistiu que a “conflitualidade permanente e a ausência de consensos irão penalizar os próprios agentes políticos, mas, acima de tudo, irão afectar gravemente o interesse nacional”.

O Presidente da República sublinhou os resultados positivos obtidos pelo país nestes dois anos de execução do programa da troika, que não eram “atingidos desde há muito”, mas admitiu que há “consequências gravosas” e que é necessário encontrar soluções para o problema do desemprego. “O combate ao desemprego deve ser uma prioridade da acção governativa”, disse.

Cavaco reiterou que a consolidação orçamental e a coesão social exigem “urgentemente” medidas de relançamento da economia. E destacou a competitividade e a estabilidade do sistema fiscal como motores para a captação de investimento.

Mas o Presidente não deixou de referir igualmente o falhanço das “estimativas”, referindo-se ao agravamento do desemprego, ao aumento do risco de pobreza e à recessão económica. Sem referir directamente o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, Cavaco Silva reconheceu, no entanto, que alguns dos pressupostos do programa de ajuda externa “não se revelaram ajustados à evolução da realidade” e questionou “se a troika não os deveria ter tido em conta mais cedo”.

Segundo os conselhos do Presidente, o país deve também preparar-se para o final do programa de assistência, agendado para 2014, mas os agentes políticos e económicos devem estar conscientes que "deverão actuar num horizonte mais amplo do que aquele que resulta dos calendários eleitorais".

"Sejam quais forem esses calendários, sejam quais forem os resultados das eleições, o futuro de Portugal implica uma estratégia de médio prazo", afirmou o Presidente da República.

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