Carlos Moedas garante que Governo está muitas vezes em desacordo com a troika

Secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro defendeu que só com a recuperação da credibilidade têm conseguido ajustar as medidas e defendeu que Vítor Gaspar é “um homem a quem o país deve muito”.

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Para Carlos Moedas a aposta no crescimento é uma prioridade Fernando Veludo/nFACTOS

O secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro garante que o actual executivo está muitas vezes em desacordo com a troika, mas defendeu que foi preciso ir ganhando credibilidade junto dos credores para renegociar medidas e prazos.

“Gostava de dizer que há esta ideia errada de que o Governo estava sempre de acordo com a troika. Não é verdade. Estamos muitas vezes em desacordo com a troika. Faço saber e luto por isso, mas não ando a gritar publicamente. Trabalho com a troika para conseguir resolver esses diferendos”, disse Carlos Moedas, numa entrevista ao Diário de Notícias e TSF.

Sobre as negociações, Moedas reconheceu que a entrada de Paulo Portas para a equipa foi “uma grande mais-valia” pela sua “experiência e pragmatismo”, elogiando ainda o guião sobre a reforma do Estado que elaborou e que está feito para “ser lido por todos”. Sobre Vítor Gaspar, disse que “um homem a quem o país deve muito”.

Moedas recusou que o programa de ajustamento tivesse metas inatingíveis, defendendo que o memorando teve de ser adaptado à realidade com que o novo Governo se deparou em Junho de 2011, com um buraco no PIB maior do que o esperado, e justificou que na óptica de ganhar credibilidade havia que fazer algum trabalho antes de negociar novas metas.

O governante reconheceu que o desemprego é um “flagelo” mas assegurou que o Orçamento do Estado para 2014 faz um ajustamento pelo lado da despesa precisamente para compensar o que foi conseguido pelos impostos após o chumbo do Tribunal Constitucional a algumas das medidas no orçamento para este ano.

Questionado sobre o caso de um representante da Comissão Europeia na troika, que se reformou aos 61 anos com mais de 13 mil euros de pensão mensal e que foi recontratado à hora, quando em Portugal querem passar a idade para os 67 anos e aplicam vários cortes, Moedas respondeu que nas questões salariais têm surgidos as divergências com os credores. “Esse tem sido um diferendo em que nós dizemos não à troika”, respondeu na mesma entrevista ao Diário de Notícias e TSF, a propósito da ideia de que o Governo prefere aumentar a competitividade do país pela qualidade e não pela redução de preço da mão-de-obra.

Sobre alguns indicadores como o aumento das exportações, o secretário de Estado recusa que o aumento do seu peso se deva apenas à quebra do poder de compra das famílias e que haja o risco de esse peso das exportações se desvanecer assim que a procura interna aumente. “Não acredito que isso não seja estrutural, não acredito que alguém que conseguiu ir para outro mercado contra ventos e marés de repente deixe de o fazer”, disse.

Sobre as previsões para 2014, que apontam para um crescimento de 0,8%, garantiu que são realistas e prudentes: “Estas previsões do Governo para 2014 não contam com o efeito das reformas estruturais e eu posso garantir-lhe que essas reformas, mais tarde ou mais cedo, vão ter um efeito positivo e esse efeito não está nas previsões do Governo, porque temos sido sempre cautelosos”.

Carlos Moedas diz que o principal objectivo do executivo de Pedro Passos Coelho é “finalizar o programa” que têm em mãos, recusando a ideia de um segundo resgate. “Aquilo que é um programa cautelar é um apoio para voltar aos mercados, é um mecanismo de seguro, não é um empréstimo. É esse apoio que é importante”, contrapôs, negando que isso exija um compromisso com o PS e ressalvando que nesse campo há sobretudo regras e metas europeias.

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