Cais 8: 23 milhões de euros a ver passar navios

Última obra inaugurada por Alberto João Jardim tem revelado fragilidades operacionais. Anunciado como zona acostável, o Cais 8 fica demasiado exposto e não tem dimensão para receber os grandes navios de cruzeiro.

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Alberto João Jardim Foto: Adriano Miranda

Começou por ser apresentado como mais um cais acostável no Porto do Funchal, o discurso inflectiu depois para uma obra de protecção para a renovada frente marítima da capital madeirense, voltando ao início, quando em Agosto o navio-cruzeiro ‘Minerva’ fez a atracagem inaugural na nova infra-estrutura.

O Cais 8 do Porto do Funchal custou mais de 23 milhões de euros, foi a última obra inaugurada por Alberto João Jardim, já na última semana antes de deixar a Quinta Vigia para Miguel Albuquerque, e sete meses depois, ninguém sabe realmente para que é que serve.

Em Outubro, a agitação marítima mais forte, revelou as fragilidades de uma obra que foi bastante contestada desde a fase de projecto mas que, contra pareceres técnicos, avançou, enquadrada na empreitada de reconstrução da Madeira no pós-temporal de 20 de Fevereiro de 2010.

No mês passado, duas escalas de cruzeiros foram canceladas, e um terceiro navio optou por fundear ao largo da cidade, com passageiros e tripulantes a desembarcarem em baleeiras. A (falta de) operacionalidade do Cais 8, que é demasiado curto para os grandes navios que fazem escala no Funchal e está exposto à ondulação marítima, aliada às obras na zona Norte do Porto, que reduzem a capacidade de acostagem até ao final do ano, reacenderam o debate em torno da infra-estrutura.

A presidente da Administração dos Portos da Madeira (APRAM), Alexandra Mendonça, que inicialmente defendeu a obra garantindo que seria uma mais-valia para o crescente mercado de cruzeiros – em 2014 perto de meio milhão de turistas desembarcaram no Funchal -, ressalva agora que a principal valência do Cais 8 é proteger a praça construída sobre o material depositado durante as limpezas de Fevereiro de 2010, mas na Assembleia e na Quinta Vigia ninguém esquece a defesa intransigente que fez daquela infra-estrutura.

No final de Outubro, durante um debate no parlamento sobre o Turismo, Albuquerque reafirmou a o que disse quando estava à frente da Câmara do Funchal: o cais só funciona com a ampliação do molhe principal do porto. Na altura, a autarquia foi uma das principais vozes críticas, o que resultou na expulsão de um vereador social-democrata do partido, e na regionalização de vários arruamentos da cidade.

O chefe do executivo madeirense assegurou no mesmo debate que, mesmo perante as evidências, não irá fazer o mesmo que Jardim, justificando a continuidade de Alexandra Mendonça na APRAM, com o facto de “não fazer saneamentos políticos”. Albuquerque acrescentou ainda que o novo cais não integra as acções promocionais que estão a ser feitas do porto de cruzeiros, um sector estratégico para o turismo regional.

Por isso a oposição quer apurar responsabilidades. O PS, já anunciou que vai avançar com um pedido de inquérito parlamentar na assembleia madeirense, e o partido Juntos Pelo Povo (JPP) já requereu uma audição parlamentar sobre a obra que o Bloco diz ser “mais um elefante branco” de Jardim.

Todos são unanimes na necessidade de ampliar o molhe principal do porto. Em 2011, a autarquia funchalense liderada por Albuquerque emitia um parecer, que assegurava que só a ampliação, em pelo menos 300 metros, garantia a protecção da frente mar da cidade. O custo estimado rondava os 42 milhões de euros que, na altura, através da Lei de Meios, poderia ser enquadrado.

Agora, na ponta final do programa de resgate – termina a 31 de Dezembro -, o executivo madeirense admite que não tem forma de avançar com a obra, pelo menos para já. Quando houver dinheiro, disse o chefe do governo regional, é estratégico pensar na ampliação do molhe. 

Jardim, que agora socorre-se do Facebook para comentar a actualidade política, insiste que a ideia é uma “idiotice” e que o Cais 8 aumentou a “oferta de acostagem” no Funchal. Tudo, escreve, não passa de uma “campanha tonta” contra o porto madeirense.

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