Braço-de-ferro nas hostes seguristas

Álvaro Beleza atacado em jantar que juntou principais apoiantes da demissionária direcção de Seguro.

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Ex-dirigente do PS anunciou a sua intenção de candidatura no Facebook Nuno Ferreira Santos

A liderança do secretário nacional do PS Alvaro Beleza no processo de negociação com o vencedor das primárias, António Costa, para a preparação do próximo congresso socialista está a ser posta em causa por um grupo de dirigentes que fez parte do núcleo duro da direcção de António José Seguro.

Esse grupo, classificado como “radical” por alguns dirigentes socialistas, não está satisfeito com o esforço de união em torno da elaboração de uma lista única para os órgãos do partido que sairão do congresso a realizar em Lisboa no final de mês de Novembro.

O mais recente episódio dessa guerra surda ocorreu na passada quarta-feira, com a organização de um jantar em Coimbra em que o ainda dirigente socialista Álvaro Beleza foi confrontado por ser “brando de mais” em relação a António Costa.

Ao que o PÚBLICO apurou, no jantar organizado pelo presidente da ANMP e presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado, alguns membros do secretariado que está de saída questionaram a legitimidade de Beleza para representar a tendência segurista. Os dirigentes António Galamba, Rui Solheiro, Miguel Larangeiro e Miguel Ginestal foram apontados ao PÚBLICO como os socialistas que exigiram uma postura mais combativa perante António Costa. E que parecem dispostos até a levar essa exigência até às últimas consequências, com a ponderação de uma candidatura alternativa à liderança do PS.

Este núcleo pretende manter-se como uma tendência organizada, sem qualquer acordo que limite as suas possibilidades de contestação interna à futura liderança de Costa.

Uma disponibilidade que resulta da percepção de que José Luís Carneiro, como líder da federação do Porto, tem lugar nos órgãos do partido por inerência, ao mesmo tempo que tem poder para apontar nomes para as listas de deputados em 2015 pelo Porto e também pode dar indicação das pessoas da sua federação que deverão integrar os órgãos do partido.

Na reunião, além dos dirigentes já referidos, estiveram outros socialistas ligados ou mesmo membros da direcção demissionária. Caso do ex-secretário-geral da UGT, João Proença, do economista Eurico Dias, e ainda dos dirigentes federativos António Gameiro, Pedro Coimbra e José Luís Carneiro.

Nenhum dos participantes no jantar contactados pelo PÚBLICO quis assumir uma posição sobre o que se passou em Coimbra. Mas a verdade é que durante o dia de ontem, o encontro era já motivo de comentário entre alguns dirigentes socialistas.

Ao que o PÚBLICO apurou, a solução encontrada para evitar fracturas nas hostes seguristas foi o grupo de dirigentes passar a reunir com maior regularidade. Havia mesmo quem falasse da constituição de uma “comissão”. De que Beleza faria parte.

Ao que tudo indica, esta não foi a primeira tentativa do núcleo “radical” para cercar Álvaro Beleza. Na semana passada, Beleza foi convidado para um jantar no Porto onde estariam presentes José Luís Carneiro, Laranjeiro, Miguel Ginestal, António Galamba para encostar Beleza à parede. O dirigente em causa não compareceu.

Dirigentes socialistas contactados pelo PÚBLICO apontam outras razões para este braço-de-ferro, além da intenção de maior agressividade para com António Costa. Depois de uma campanha muito extremada para as primárias, alguns destes dirigentes receiam vir a perder espaço na composição das futuras listas de candidatos às eleições legislativas de 2015. A estratégia de colagem de António Costa aos interesses instalados durante a campanha caiu mal no seio dos apoiantes de António Costa. Que logo após as primárias não deixaram de manifestar a intenção de expurgar os órgãos dirigentes e as listas candidatas às eleições nacionais dos “protagonistas dessa estratégia”. Entre os socialistas – quer no seio das hostes de António Costa, quer entre os seguristas apostados na “pacificação interna” – aponta-se aos que assumiram “posições mais violentas contra António Costa” como os que agora pretendem fazer descarrilar o esforço de união no próximo congresso socialista.

Logo após as primárias, Álvaro Beleza foi pressionado por alguns elementos próximos a Seguro para avançar com uma candidatura alternativa a António Costa. No entanto, este dirigente optou por evitar a confrontação, tendo reunido com o vencedor das primárias para delinear uma estratégia conjunta. Que passava pela inclusão de algumas das bandeiras programáticas de Seguro na moção de Costa ao congresso, bem como a constituição de uma lista única aos órgãos do partido. Com a facção segurista a garantir entre 30% a um terço dos lugares.

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