Bloco vai segurar o actual líder parlamentar até à convenção

No congresso marcado para Novembro, haverá cinco moções subscritas por cerca de 2000 militantes. Partido pode ficar ainda mais dividido.

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Pedro Filipe Soares desafiou a liderança de João Semedo e Catarina Martins Nuno Ferreira Santos

Depois de 23 de Novembro o líder parlamentar do BE já não será Pedro Filipe Soares. Esta era na quarta-feira a única certeza que pairava no Parlamento sobre mais uma crise interna do partido.

Ao que o PÚBLICO apurou, a estratégia dos coordenadores é deixar “marinar” a liderança da bancada até à convenção, que decorre entre 22 e 23 de Novembro, em Lisboa. Retirar o pelouro, para já, a Pedro Filipe Soares permitir-lhe-ia dramatizar e ganhar pontos. Soares respondeu ao PÚBLICO que, à semelhança do que afirmara na véspera, o seu lugar está à disposição, embora não avance se sairá pelo seu pé no caso de perder o congresso.

A liderança parlamentar é decidida pela comissão política em articulação com o grupo parlamentar. Se a bancada está literalmente dividida – quatro contra quatro -, os coordenadores detêm maioria na comissão política.

“Se quiséssemos que saísse já, esmagávamo-lo como a uma formiga”, diz um apoiante de João Semedo e Catarina Martins. “Só não ficará na direcção da bancada este mês e meio até à convenção se sentir, da parte dos coordenadores, que não tem condições políticas, o que não deve suceder”, diz outra fonte ouvida pelo PÚBLICO.

O peso da tendência Esquerda Alternativa, que tem em Luís Fazenda o expoente máximo como fundador do partido, não é subestimável. Dirigentes de primeira linha estimam uma força interna na ordem dos 40% ou mais. É por isso certo que o próximo congresso será muitíssimo disputado, pelo que ninguém arrisca garantir a reeleição de Semedo e Catarina.

Além disso, à moção Bloco Plural, que conta com Pedro Filipe Soares à cabeça, e à Revolta Cidadã, liderada pelos actuais líderes, juntam-se outras três que serão debatidas no congresso. Feitas as contas, são cinco documentos subscritos por cerca de 2000 militantes, um número recorde que pode contribuir para dividir mais o Bloco. No entanto, ainda não é certo que todas as moções apresentem uma lista candidata à Mesa Nacional.

Entre os mais próximos dos actuais coordenadores, ontem recuava-se ao apoio à candidatura presidencial de Manuel Alegre e à reunião pedida aos socialistas, há de mais de um ano, para apontar a mudança radical de posição dos apoiantes de Soares.

“Porque é que, até ontem, o agora candidato nunca encontrou uma única oportunidade de censurar aquela iniciativa nas várias reuniões da Mesa Nacional entretanto ocorridas? Porque escondeu do conjunto do partido a sua crítica durante um ano inteiro? Como se sentiu à vontade para representar um Bloco que ‘bate à porta do PS’ para propor ‘governos sem condições’”, perguntavam o fundador Fernando Rosas e os dirigentes José Gusmão e Mariana Mortágua, num texto intitulado “A fábula do governo sem condições” a que o PÚBLICO teve acesso. E acrescentavam que valorizam “o gesto e a apresentação de alternativas claras” para a liderança, desde que o debate seja fundamentado e não sirva para “lançar poeira”.

No Parlamento, outro assunto de corredor era a contradição dos “fazendistas” criticarem agora o “apoio indevido” à candidatura de Alegre quando foram entusiastas da opção. Nessa altura, Fazenda criticou publicamente o PCP por apresentar um candidato próprio – Francisco Lopes -, não reconhecendo que Alegre estava mais à esquerda do que todos os candidatos que os comunistas já tinham apoiado numa primeira volta, como Ramalho Eanes, Salgado Zenha ou Jorge Sampaio.

Na moção Bloco Plural, Luís Fazenda, Pedro Filipe Soares e a dirigente nacional Joana Mortágua (que integrou a direcção de campanha de Alegre) apontam o apoio ao socialista como o primeiro passo da perda de confiança manifestada pelo eleitorado. Uma “linha política incoerente e errática” que, defendem, “afastou muitas pessoas do BE”.

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