Bloco vai a Berlim dizer que o Sul da Europa não é preguiçoso

A líder do Bloco de Esquerda vai a Berlim, a convite do Die Linke, participar numa homenagem à feminista Rosa Luxemburgo e num comício. O discurso já está preparado e não é contemporizador

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Na Alemanha, a bloquista vai dizer que a União Europeia em tempos sonhada é uma miragem Nelson Garrido

Catarina Martins não leva um caderno de encargos muito pesado para Berlim. As ideias principais resumem-se em cinco pontos: explicar bem a realidade portuguesa; fazer a pedagogia do Sul da Europa; criticar a agenda neoliberal; explicar a importância de recuperar a soberania nacional; e defender a reestruturação da dívida. 

Quando subir ao palanque no Kosmos, um salão de eventos na capital alemã, no domingo, para participar num comício do Die Linke, partido homólogo do BE, a bloquista do BE não vai perder a oportunidade para se referir ao ano eleitoral na Alemanha. Vai chamar-lhe “o ano de todos os riscos políticos”.

Portugal, o retrato

No início, Portugal. O retrato que Catarina Martins vai pintar do seu país no comício do Die Linke será um banho de realidade para os alemães. “Em Portugal, o salário médio é metade do salário mínimo alemão. O nosso salário mínimo líquido é inferior a 500 euros por mês. 10% dos trabalhadores vivem na pobreza. O desemprego jovem é superior a 25%. Mais de 70% das pensões de reforma são inferiores ao salário mínimo. Uma em cada cinco pessoas vive na pobreza. Uma em cada três crianças é pobre (…). Os portugueses são dos que trabalham mais horas por dia na Europa e trabalham mais dias por ano do que a média. E os gregos trabalham ainda mais”.

O Sul não é preguiçoso

Um dos objectivos do Bloco de Esquerda nesta passagem pela Alemanha é fazer pedagogia pelo Sul da Europa, esforçando-se por explicar aos alemães que eles não estão a pagar a preguiça do Sul da Europa, porque o Sul não é preguiçoso. “Essa é a repetição de uma velha mentira”, dirá a bloquista.

E deixará o aviso: “Quando os 1% dos mais ricos estão a ficar mais ricos e os restantes 99% estão a ficar mais pobres, apontar o dedo aos que estão ainda mais pobres - o Sul da Europa, os migrantes, os refugiados, as minorias - é uma maneira de impedir que as pessoas olhem para aqueles que realmente nos estão a roubar.”

A agenda neoliberal

Em Berlim, Catarina Martins não deixará de falar na crise financeira de 2007-2008, em que “os governos de todo o mundo prometeram novas regras para controlar o sistema bancário e proteger os cidadãos”, acabando por criar “regras para limitar a democracia e proteger o sector financeiro”.

A esse propósito, falará mais uma vez de Portugal, que enfrenta uma crise da dívida pública a qual serviu como “desculpa perfeita para impor uma agenda neoliberal” de privatizações, liberalização, desregulamentação, enfraquecimento do Estado-Providência, ataque aos direitos dos trabalhadores, precariedade. “Os baixos salários portugueses estão a pressionar os salários alemães para baixo”, acrescentará Catarina.

Soberania como objectivo

Outra mensagem importante que Catarina Martins vai passar aos alemães é a da soberania nacional como prioridade “porque a soberania popular, a democracia, é um obstáculo ao projeto neoliberal europeu”. Usando de uma linguagem mais radical do que a que usa actualmente em Lisboa, em Berlim, Catarina Martins vai dizer que “os neoliberais odeiam a democracia e por isso temem os direitos e a organização dos trabalhadores”. Além disso, a bloquista explicará que depois de cinco anos de austeridade Portugal não conseguiu resolver o problema da dívida pública ou do défice. “Mas durante todo este tempo as instituições europeias e o governo alemão apresentaram Portugal como um bom exemplo”.

Reestruturação da dívida

E finalmente, a dívida. O Bloco de Esquerda não esquecerá, em Berlim, que o problema da dívida pública está a crescer. “E crescerá enquanto continuarmos a adiar uma reestruturação da dívida”, planeia dizer a líder do Bloco. “E quando os sociais-democratas e a direita conservadora nos dizem que ao atacarmos os tratados europeus, o Banco Central Europeu e as regras do euro, estamos a ser exactamente como a extrema-direita, eles estão apenas a tentar fazer-nos crer que a austeridade é o melhor a que podemos aspirar”. 

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