Bloco e PCP trocam elogios e convergem nas críticas ao PS

O primeiro frente-a-frente da campanha televisiva colocou Jerónimo de Sousa a debater com Catarina Martins.

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Catarina Martins e Jerónimo de Sousa estão de acordo em quase tudo o que importa excepto, claro, na escolha que os eleitores à esquerda do PS devem fazer nas eleições de 4 de Outubro. O que os separa pode ser importante, embora com a política totalmente centrada nos assuntos económicos não haja muito espaço para que esta actriz e este operário metalúrgico expliquem as diferenças mais marcantes entre o Bloco de Esquerda e o PCP. “Se os problemas do País fossem as diferenças e até as divergências entre nós, estaria o país bem”, começou por assinalar Jerónimo.

“BE e PCP têm formas de agir diferentes, preocupações diferentes”, prosseguiu Catarina Martins, “mas no debate sobre a austeridade temos convergido”. 

Mas as diferenças estão lá. Catarina Martins tentou esboçar uma: a abertura a convergências fora das fronteiras do partido. O líder do PCP acusou o toque e lembrou a abertura do seu partido ao “trabalho unitário”, desde antes do 25 de Abril.

Essas convergências não se têm alargado, desde o 25 de Abril (com a curta excepção dos mandatos de Jorge Sampaio e João Soares na Câmara de Lisboa, nos anos 90), a projectos de governação a uma escala maior. “Sendo portadores de uma política alternativa estamos prontos e preparados para integrar uma alternativa política”, afirmou Jerónimo, à semelhança do que tem dito, recentemente. Mas... “participar no Governo para quê e para quem?”, questionou Jerónimo. “O BE nunca quis ficar fora dos Governos. Não houve ainda condições para um Governo de esquerda no país”, afirmou a coordenadora do BE.

Reestruturação da dívida e política de privatizações são os principais bloqueios que ambos elegem para qualquer entendimento com os socialistas. “O PS não se distingue da direita”, nestas matérias, acrescentou Catarina Martins. “A vida tem demonstrado que o PS, em minoria ou com maioria absoluta, sempre mas sempre fez uma opção de praticar aquilo que classificamos como uma política de direita”, reforçou Jerónimo.

Fazer uma “política de direita” não significa, contudo, esclarece o secretário-geral do PCP, que o PS seja “um partido de direita”.  “Eu não acho que o PS seja igual ao PSD e ao CDS, porque não é”, repetiu Catarina Martins. Porém, o PS “tem um alinhamento completo com o PSD e o CDS naquilo que é essencial”. Exemplo: Tratado Orçamental. 

Com uma digressão pela memória do fracassado PEC IV, um terço do debate cumpriu-se ainda a separar as águas com o PS. Então, o moderador lembrou os números recentemente divulgados pelo INE sobre o crescimento do PIB e a baixa da taxa de desemprego. Ambas as estatísticas foram questionadas pelo líder do PCP, que classificou como “anémico” o crescimento e criticou a forma como os vínculos precários estão a substituir os empregos. Catarina Martins lembrou que “o Estado tem gasto muito dinheiro” a criar ocupações para mascarar as estatísticas. “O Governo tem mascarado o desemprego com abuso”, criticou.

Novo tema: o euro. O PCP vê “necessidade de estudo e de preparação para uma saída do euro”.  Já o BE vê no euro “uma máquina de austeridade”: Porém, a saída da moeda única não é uma solução para a crise. “A saída do euro por si só pode ser o pior de dois mundos”, defendeu a líder do Bloco que foi quem, pela primeira vez, trouxe para o debate a Grécia.

A terminar, o moderador pediu um comentário sobre as declarações de Paulo Rangel acerca da independência de Justiça. “É inaceitável”, criticou Jerónimo, não apenas porque se trata de “uma insinuação” que visa atacar o PS, mas também porque põe em causa a “separação de poderes”. Foi “tudo lamentável”, porque apenas serviu para “amesquinhar o PS”, reforçou Catarina Martins, que criticou a política de Justiça do Governo PSD/CDS-PP. 

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