“Bem haja”, ouviu Sócrates quando foi votar

Ex-primeiro-ministro foi saudado por várias pessoas à entrada e à saída da assembleia de voto, onde se deslocou sem escolta policial visível.

Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Daniel Rocha
Fotogaleria
Daniel Rocha
Fotogaleria
Daniel Rocha
Fotogaleria
Daniel Rocha
Fotogaleria
Daniel Rocha

“Bem haja.” Foram estas as primeiras palavras que o ex-primeiro-ministro José Sócrates ouviu quando entrou na sua assembleia de voto este domingo, um stand de automóveis nas proximidades do Marquês de Pombal, em Lisboa. Um antigo autarca socialista daquela junta de freguesia insistia em cumprimentar o principal arguido do processo Marquês, e não era o único. A delegada da mesa de voto levantou-se para o ir buscar à porta, enquanto os flashes de um batalhão de fotógrafos e as câmaras de televisão registavam os breves momentos de Sócrates na fila para receber o boletim, de fato cinza e gravata azul-clara.

Mónica Ribeiro, uma empregada do sector hoteleiro, levava a filha pela mão e reparou logo no indivíduo bem vestido que estava antes dela. “A minha primeira sensação foi pensar: ‘Tenho um homem elegante à minha frente. Só depois vi quem era. Ele cumprimentou-me, eu retribuí.” Era impossível o antigo primeiro-ministro adivinhar que figurava entre os motivos pelos quais esta mãe de 47 anos não ia votar no partido do punho cerrado. “Infelizmente já votei em José Sócrates no passado. Hoje, apesar de ser socialista por ideologia, não o fiz – e ele influenciou muito isso”, admite Mónica Ribeiro. “Talvez não seja tão culpado como dizem – mas inocente também não será. Não acredito em cabalas desse tamanho.”

À espera na fila, Sócrates tamborila com os dedos no cartão do cidadão, num gesto de ligeira impaciência. Olha em frente fitando o vazio, sem encarar ninguém, e chega a sorrir. Se o olhar trai algum nervosismo, depressa o controla. Bastam poucos minutos para chegar a sua vez, mas a parafernália gerada pela sua presença é tal que por momentos tem dificuldade em ouvir as instruções que lhe dão para se dirigir à cabine de voto, onde acaba por se demorar escassos segundos. À saída, abeira-se-lhe uma mulher de meia-idade: “Dê-me um beijinho, que eu gosto tanto de si.” Entre os eleitores que vieram votar à hora de almoço, há quem não se contenha perante tais demonstrações de ternura. “Que desgraça! Que pouca-vergonha!”, resmunga um homem entre dentes. Mas logo se ouve nova saudação dirigida ao antigo líder socialista. É outra vez o antigo autarca do PS: “Deus é grande e o senhor também.”

À saída do stand de automóveis, Sócrates faz finalmente a declaração pública por que todos esperavam. É quase uma não declaração: diz que não é agora que irá falar do processo em que está envolvido, que o fará mais tarde – porque sabe esperar. Recorre várias vezes à palavra “tempo” na curta intervenção, que por coincidência tem lugar na mesma altura em que Cavaco Silva está também a prestar declarações públicas, depois de ter votado.

Passou pouco mais de meia hora desde que saiu da casa da ex-mulher, onde se instalou quando o deixaram sair da cadeia de Évora. É para esse pequeno prédio nas imediações da Alameda Afonso Henriques que volta em seguida, num BMW escuro – sem escolta policial, como faz questão de frisar. Se a PSP o vigiou neste período de liberdade que lhe foi concedido para ir votar, fê-lo de forma discreta, à paisana. A acompanhá-lo apenas segue o porta-voz dos seus dois advogados, um profissional que até há poucos dias trabalhava para uma agência de comunicação.

O ex-autarca socialista acaba por explicar que afinal já é só simpatizante do PS, deixou a militância há uns anos. “Não estou a dizer que este homem é completamente inocente. Mas também sendo político…”

Sugerir correcção
Comentar