BE não promete resultados, mas “ver o medo mudar de lugar é muito bom”

O processo de negociação entre PS, BE e PCP “é difícil, é complexo, mas é mesmo, mesmo” o que tem de ser feito, diz a porta-voz do Bloco. “E porque não desistimos há quem esteja assustado.”

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Pedro Filipe Soares e Catarina Martins, nesta sexta-feira, no Parlamento Miguel Manso

A porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, arrancou na noite desta sexta-feira uma gargalhada da sala quando disse que Manuela Ferreira Leite está “em choque” com a possibilidade de um governo à esquerda. É a antiga presidente do PSD, são as bolsas… “Ver o medo mudar de lugar é muito bom”, reconheceu, garantindo que os passos para que essa solução à esquerda aconteça, mesmo não sendo fáceis, estão a ser dados.

“Não posso prometer resultados”, ressalvou, no entanto, diante de cerca de 250 pessoas, na Casa do Alentejo, em Lisboa, referindo-se às negociações em curso entre PS, BE e PCP. Mesmo sem garantias de que vá ser possível, o Bloco está a trabalhar “com muito afinco”. “É difícil, mas não impossível”, afirmou. Antes, já tinha dito: “É [um processo] difícil, é complexo, mas é mesmo, mesmo o que temos de fazer.”

Porém, “seja qual for o resultado”, esta Assembleia da República já tem “maioria para mudar muita coisa no país”, declarou, enumerando, entre outras questões, a anulação que a esquerda quer fazer das alterações à lei da interrupção voluntária da gravidez.

Catarina Martins começou a sessão a explicar que, nestes dias, em que se está a decidir o futuro governo de Portugal, há três “conceitos fundamentais que têm presidido à direcção do BE” na forma como olha para o país: responsabilidade, medo e esperança.

Responsabilidade, pelos resultados que o Bloco teve nas eleições legislativas e que tornaram este partido a terceira força política do parlamento, afirmou. O Bloco “aqui está para responder” aos problemas da vida das pessoas e “aqui está até às últimas consequências”, garantiu.

Medo, porque as negociações em curso, para uma eventual solução de governo à esquerda, entre PS, BE e PCP, estão a “assustar” muita gente: “E porque não desistimos há quem esteja assustado.”

Foi quando afirmou que a antiga presidente do PSD Manuela Ferreira Leite “está em estado de choque”, com a possibilidade de um governo à esquerda, que a sala irrompeu numa gargalhada. No seu habitual comentário na TVI, Manuela Ferreira Leite acusou o líder do PS de “não ter mandato para se aliar à esquerda” e de estar a fazer “um verdadeiro golpe de Estado".

E voltou a arrancar outra gargalhada da assistência quando abordou a reacção que a esquerda provoca nas bolsas: “[Ficaram] com medo de mim, fiquei um pouco espantada.” Mas, se “o ridículo não mata e até nos podemos rir dele”, já “ver o medo mudar de lugar é muito bom.”

“Posição vergonhosa”
Durante anos, continuou, o Bloco foi criticado por não querer ser governo, por não estar disponível para fazer parte de soluções. Agora, “quando o BE tem a força, a disponibilidade, e a relação de forças no país o permite”, fica “toda a gente muito chocada”. Mas “a democracia não é assim”, disse. Ou seja, “não é um dia em que vamos votar e depois a direita governa”.

Catarina Martins deixou algumas promessas, ou “esperança”, nesta sexta-feira à noite: “Não faremos nenhuma concessão que torne possível um governo de direita.” O BE quer ser “a garantia de que uma solução de mudança” protege “o que é essencial” – pensões, salários, emprego, a Segurança Social.

A sessão em que Catarina Martins participou foi aberta a questões do público. Uma delas foi sobre a renegociação da dívida. A porta-voz voltou a explicar que, mesmo que o tema não esteja em cima da mesa das negociações com o PS, tal não significa que o BE abandonará a sua convicção. E a questão acabará por ser posta “mais cedo do que tarde”: “O BE mantém que será uma questão inultrapassável”, frisou.

Sobre as negociações em curso, disse que o Bloco tem apresentado “uma série de alternativas, que se equilibram, que são neutras entre si”, que “repõem direitos e rendimentos do trabalho”, e com “números”. Catarina Martins espera que rapidamente todas as partes no processo “possam ter os mesmos números apresentados como o Bloco tem feito”.

E, perguntando à bloquista Mariana Mortágua que tem contribuído para esses estudos feitos pelo BE, se não está a cometer nenhuma inconfidência, afirmou: “Temos mesmo encontrado soluções que ninguém tinha pensado”, soluções que “podem fazer a diferença no país”.

A porta-voz sabe que é necessário empenho para dar “respostas em tempo útil”, mas o processo é “complexo”. Aliás, a Comissão Europeia bem “pode querer o orçamento no dia em que quiser, primeiro tem de haver um governo”. Às pessoas na sala, garantiu ainda que ao BE não lhes interessa “o cheiro a poder”, mas a vida das pessoas.

No final, Catarina Martins aproveitou ainda a ocasião para acusar o Governo português de ter uma “posição vergonhosa” no que se refere à situação de Luaty Beirão, preso, em greve de fome e com um estado de saúde grave: “Não sei quanto mais tempo irá aguentar”, disse, acrescentando que o rapper e outros activistas “estão presos porque têm cabeças livres”.

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