BE acusa Passos de não saber impacto do corte de 4000 milhões

Catarina Martins defende que o valor apontado para o pacote da reforma do Estado é, afinal, o correspondente ao défice excessivo que o Governo poderá ter este ano.

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Bloco acusou Governo de querer cortar 4000 milhões para tapar "buraco" do défice Rui Gaudêncio

Entrando em diálogo com a deputada bloquista, o chefe do Governo acabou por admitir que não existe qualquer estudo sobre as consequências deste corte de quatro mil milhões de euros. E deixou sem resposta a questão sobre a recessão de 3%.

O BE insistiu na pergunta, mas Passos Coelho não deu resposta. A deputada e coordenadora do Bloco, Catarina Martins, questionou esta sexta-feira o primeiro-ministro sobre qual o impacto no défice das contas públicas do corte de quatro mil milhões de euros e se espera uma recessão de 3% este ano.

Passos Coelho argumentou, no debate quinzenal no Parlamento, que “não há crescimento havendo excesso de dívida” e que se não forem feitas “poupanças definitivas”, será impossível ter uma “trajectória sustentada para a dívida pública”.

Acerca das previsões para a economia, o líder do Governo argumentou que “todas as entidades que fazem previsões apontam para um crescimento em 2014”. A deputada bloquista desafiou: “As previsões do Banco de Portugal não incluem o corte de quatro mil milhões de euros.”

Foi então que Catarina Martins resolveu tirar as suas conclusões: o Governo, apontou, “está a preparar à socapa um corte de quatro mil milhões de euros que não é nenhuma reforma do Estado. É o valor preciso do buraco de Vítor Gaspar e é esse que quer tapar. É o valor do défice que sabe que não consegue cumprir”.

PCP critica lucros e atitude do BPI

Por seu lado, o PCP, na interpelação ao Governo, preferiu o tema da banca. Jerónimo de Sousa criticou os 249 milhões de euros de lucros do BPI, que apresentou contas de 2012 esta quinta-feira, sobretudo porque boa parte (160 milhões) se deve à compra de dívida pública. E criticou igualmente os comentários do seu presidente, Fernando Ulrich, que disse que se os sem-abrigo gregos aguentam mais sacrifícios, os portugueses também.

“Não considera uma vergonha que um banco que tenha estes lucros  tenha uma recapitalização de 1,3 mil milhões de euros e reduza 158 trabalhadores?”, questionou o líder comunista. E apontou: “Há menos Estado para doentes e reformados, mas mais Estado para a banca. É uma fixação deste Governo em estar do lado da banca e dos mais fortes.”

Jerónimo de Sousa apelou: “Cale-se para sempre com esse embuste da equidade dos sacrifícios!”

Passos Coelho recusou “responder por afirmações de banqueiros” e justificou que foi a direcção europeia da concorrência que fixou as taxas a pagar pelos activos de dívida pública. Também negou que a banca tenha sido favorecida, quando dos 78 mil milhões de euros que o país recebe da troika, “apenas” cinco mil milhões foram canalizados para os bancos.

"78 mil milhões são para o Estado, não para a economia"

“Os 78 mil milhões que o Estado pediu emprestados não são para economia, são para o Estado – para pagar salários, pensões, para pagar o seu défice. É para o Estado”, repetiu, perto de uma dezena de vezes Passos Coelho sob os protestos da bancada comunista e os aplausos do PSD.

Embora afirmasse, sob os protestos da bancada do PCP, que os “bancos têm hoje níveis de rendibilidade baixas”, o primeiro-ministro apressou-se a acrescentar que são os próprios bancos que “terão de a resolver”, embora admita que isso é motivo de “preocupação” porque são os bancos que ajudam a “suportar a economia”.

Também Heloísa Apolónia, deputada de Os Verdes, fez eco das palavras de Fernando Ulrich, presidente do BPI, dizendo que “há limites para gozar com a situação do país”.

A deputada começou por referir que o banco, que foi alvo de recapitalização por parte do Estado, obteve 165 milhões de euros resultantes “do jogo da especulação da dívida” e desafiou o primeiro-ministro a condenar as palavras de Fernando Ulrich sobre a capacidade de os portugueses aguentarem a austeridade.

“Não tenho acções no BPI, nem contas no BPI e tenho muita dificuldade em responder-lhe nesta matéria”, afirmou Passos Coelho.

 
 
 

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