Balsemão escolhe Durão Barroso para lhe suceder em Bilderberg

Patrão da Impresa deixa o poderoso clube internacional ao fim de 32 anos. "É altura de dar lugar a outro português", afirmou ao PÚBLICO.

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Durão Barroso

Ao fim de 32 anos, Francisco Pinto Balsemão vai deixar o restrito clube de Bilderberg e já escolheu o seu sucessor no steering committee, o conselho director que organiza os encontros anuais. Será José Manuel Durão Barroso, o ex-presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro português entre 2002 e 2005, que o irá substituir, apurou o PÚBLICO.

O novo nome português do steering committee, escolhido pelo patrão da Impresa, terá ainda de ser aprovado pelos restantes membros. Espera-se que Durão Barroso assuma o cargo depois da reunião anual do clube Bilderberg, marcada para os Alpes austríacos para daqui a duas semanas – poucos dias depois e a alguns quilómetros do local do encontro do G7, na Alemanha.

Ao PÚBLICO Francisco Pinto Balsemão confirmou a sua decisão de abandonar o steering committee de Bilderberg, assim como a escolha de Durão Barroso. “Achei que era a altura de dar lugar a outro português”, limitou-se a justificar o também fundador do PSD, que poderá continuar a ser convidado para participar em conferências anuais daquele clube restrito.

Durão Barroso já conhece os cantos à casa: foi convidado em 2003 e 2005 e manteve uma ligação como consultor. Há dez anos que ninguém repete o convite.

Balsemão parece gostar de escolher os seus sucessores – fê-lo no grupo de media que fundou, a Impresa, ao passar o poder executivo para Pedro Norton há dois anos, e agora decide abandonar o palco internacional nomeando quem fica no seu lugar. Francisco Pinto Balsemão é membro do steering committee há 32 anos – fez oito mandatos de quatro anos, quando o habitual é metade –, sendo, por isso, dos mais antigos membros daquele conselho director. Em 1999 organizou na Penha Longa, em Sintra, a única reunião em Portugal.

Quase tudo é decidido e discutido em segredo neste clube. O local da reunião anual costuma ser anunciado com poucos dias de antecedência, assim como os nomes dos convidados, e os temas abordados são divulgados sob a forma de tópicos no site da organização. Os participantes não podem divulgar o conteúdo das reuniões e impera o princípio da Chatham House Rule – podem usar a informação discutida, mas sem atribuir a sua origem. Normalmente acabam mesmo por não comentar os encontros.

Clube de poderosos
O steering committee é um órgão intermédio daquela organização. Trata-se do conselho director das reuniões de Bilderberg, que realiza habitualmente duas reuniões por ano, e que escolhe os grandes temas e oradores da conferência anual. É para esta conferência que os conselheiros levam convidados do seu país de origem.

Na estrutura do clube, e abaixo deste conselho director, existe um outro nível de ligação a Bilderberg, constituído por personalidades que prestam algum tipo de consultoria ao steering committee, e que podem já ter passado (ou não) pelas reuniões anuais. Acima está o steering: é constituído por 33 filiados no clube, entre os quais Balsemão, é presidido por Henri de Castries, o presidente executivo do grupo Axa, e tem o magnata norte-americano David Rockfeller como conselheiro.

Os nomes e as referências profissionais disponíveis no site oficial – são políticos, académicos de renome, empresários e gestores de topo e de empresas de peso internacional – mostram a importância daquele órgão. São os membros do steering committee que fazem os convites aos participantes que vão mudando todos os anos.

Acima deste conselho estará ainda um restrito advisory group, com apenas nove membros e que Rockfeller também integra.

Convidados portugueses de peso
Balsemão, que entrou em Bilderberg em 1983 (acredita-se que por alguma influência de Medeiros Ferreira, que fora ministro dos Negócios Estrangeiros), costuma convidar uma personalidade mais à esquerda e outra à direita. Ainda não se conhecem as duas personalidades deste ano, mas o social-democrata tem tido dedo para a escolha de nomes que acabam por ganhar depois relevância política na vida nacional.

Pela sua mão já ali passaram todos os antigos primeiros-ministros (alguns antes de o serem, como foi o caso de Pedro Santana Lopes e José Sócrates, ambos em 2004), assim como praticamente todos os líderes do PS e do PSD – excepto Passos, que foi convidado, mas acabou por não ir.

Mas também gestores como Ricardo Salgado, António Borges, Vasco de Mello, Murteira Nabo, Artur Santos Silva, Vasco Pereira Coutinho ou Miguel Horta e Costa. Jornalistas como Clara Ferreira Alves, Nicolau Santos, Margarida Marante ou José Eduardo Moniz. E políticos, muitos políticos – António Guterres, Jorge Sampaio, Rui Machete, Deus Pinheiro, António Vitorino, Ferro Rodrigues, Paulo Portas, Leonor Beleza, Rui Rio, António Costa, Manuela Ferreira Leite, Teixeira dos Santos, Paulo Rangel, Nogueira Leite, Luís Amado ou Jorge Moreira da Silva.

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