As justificações dos abstencionistas: “Estava a jogar à sueca”

Jorge de Sá identifica nove tipos de abstencionistas. Os que não votam por comodismo são flutuantes.

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Diogo Baptista

O número de eleitores que se abstêm por comodismo varia de eleição para eleição, consoante a importância que os cidadãos atribuem ao acto eleitoral, estejam em causa eleições legislativas, autárquicas, europeias ou referendos específicos.

Jorge de Sá, director técnico do centro de sondagens da Aximage, que em 2009 publicou o livro Quem se abstém?, realizou sondagens pós-eleitorais nos dias imediatamente seguintes a votações realizadas entre 1998 e 2006, nas quais identifica três “grandes grupos de abstencionistas”: os crónicos; os flutuantes; e os selectivos.

Em cada uma destas categorias, o investigador e docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) desdobra o tipo de abstencionistas em três. São, portanto, nove as tipologias. Há desde os abstencionistas contestatários aos indiferentes, passando pelos cépticos, pelos que revelam falta de identificação, falta de esclarecimento, pelos que identificam falta de dramatização, pelos que evocam causas pessoais ou razões técnico-administrativas. E depois há os abstencionistas por comodismo, que se enquadram no grupo dos flutuantes.

“Entre estes nove tipos de abstencionistas encontram-se os que não votam por comodismo e cuja expressão numérica varia consoante o tipo de eleição, ou seja, ao sabor da importância que os eleitores atribuem ao acto eleitoral, fenómeno que a ciência política designa como eleições de primeira e segunda ordem”, vinca Jorge de Sá.

Se no referendo de 1998 sobre a despenalização do aborto os abstencionistas por comodismo representavam 27% de todos os que não foram votar, nas legislativas de 1999 a percentagem foi de apenas 9%, o que contrasta com os 28% registados nas europeias realizadas quatro meses antes nesse mesmo ano. Este último valor está próximo do estimado para as europeias seguintes, de 2004 (30%), e o mesmo se passa com o novo referendo à despenalização do aborto, de 2007 (29%); nas legislativas de 2005 que deram a maioria absoluta ao PS, a percentagem já não está tão próxima dos valores das legislativas de 1999 (9%). No entanto, volta a haver uma coincidência quando se comparam outros dois actos eleitorais, as presidenciais de 2001 em que Jorge Sampaio foi reeleito (12%) e as presidenciais de 2006 que deram a vitória a Cavaco Silva (14%).

Como se definem os que não votam por comodismo? Jorge de Sá enviou ao PÚBLICO algumas respostas directas dadas por esses inquiridos. À excepção da tónica comum que é o facto de representarem a não comparência às urnas, há respostas tão díspares como “Almocei tarde e depois adormeci”, “Fiquei por casa, a não fazer nada”, “Estive a brincar com o meu neto”, “Não me apeteceu”, “Quando dei por ela já era tarde”, “Fui passear o cão e pus-me à conversa com a vizinha”, “Fui passar o dia com os meus compadres”, “Estava a jogar à sueca” ou simplesmente “Há coisas mais giras do que votar”.

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