Arrancou movimento para concorrer às legislativas “ao contrário”

Livre, Fórum Manifesto, 3D e Renovação Comunista juntam-se a independentes para preparar "candidatura cidadã" que olhe para o governo como um "meio para uma política diferente no país".

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Rui Gaudêncio

Foi lançado nesta segunda-feira, em Lisboa, o “movimento” que pretende que sejam “os cidadãos a fazer a candidatura” às legislativas que depois as “organizações apoiam”.

Foi assim que o historiador e dirigente do Partido Livre, Rui Tavares, justificou a convocatória para uma “candidatura cidadã”.

Ladeado por Ana Drago, da Fórum Manifesto, Cipriano Justo, da Associação Renovação Comunista, e pelo economista José Reis, o ex-eurodeputado explicou “como” aquele grupo se propunha “mudar a maneira de fazer política em Portugal”.

Sustentada na “forma jurídica” do Livre, o movimento irá a votos, incluindo pessoas provenientes de outras organizações e também independentes.

Em vez de apresentar um programa e uma lista de candidatos aos eleitores, quer construir esse programa eleitoral numa convenção a realizar a 31 de Janeiro e depois avançar com “um processo de construção de listas aberto, em eleições primárias”. Com o objectivo final, explicou a ex-dirigente do BE Ana Drago, de serem “capazes de mudar a vida das pessoas” através de uma “governação à esquerda”.

Uma “imperiosa urgência”, como assumiu o economista e um dos subscritores do "Manifesto 3D", José Reis, que obriga o movimento a encarar o PS como inevitável. “Não nos queremos perder a cavar as trincheiras que nos separam”, prometeu o ex-secretário de Estado do Ensino Superior do socialista António Guterres, antes de reconhecer que “um governo à esquerda se faz, evidentemente, com o PS”. Mas sem qualquer tipo de “rendição” nas políticas de esquerda que os promotores da iniciativa defendem.

Puxam, assim, o PS para a esquerda, nas próximas legislativas. "Um bom resultado era que, no próximo momento em que os portugueses forem confrontados com escolhas difíceis para o futuro do país, houvesse a capacidade de criar uma alteração no campo político que permitisse uma alteração da governação", explicou Drago.

Ainda assim, os promotores aproveitaram a convocatória para marcar a diferença em relação às restantes forças políticas de esquerda. “Há quem veja o governo como um fim em si mesmo e há quem veja o governo como um tabu a evitar.” Foi a forma que Tavares encontrou para revelar como olhava para o PS, por um lado, o PCP e BE por outro. “Carece de representação aquela parte da população que vê o governo, simplesmente, como um meio para um resultado que é o de garantir uma melhor governação, melhor implementação de políticas e a efectivação de uma política diferente para o país”, acrescentou depois.

Ana Drago e Cipriano Justo explicaram em seguida o que tencionavam mudar. A ex-bloquista explicou que o movimento serviria para apoiar as “escolhas difíceis” que aí vinham. Travar “novos cortes”, manter “na esfera pública os instrumentos necessários”, combater a pobreza e a precariedade e credibilizar a “coisa pública”. Justo defendeu que a mudança pretendida teria de apresentar “respostas políticas” para o abandono e o baixo aproveitamento escolar, e avançar com “políticas activas de promoção da saúde”, a levar a cabo com “políticas intersectoriais de proximidade” e através de uma “extensa descentralização”.

Entre as dezenas dos promotores iniciais do movimento que não tem ainda um nome – esse partirá também de uma “deliberação” de quem pretender participar estão figuras com passado político. Como o ex-vereador de António Costa em Lisboa Fernando Nunes da Silva, a ex-deputada do PCP Luísa Mesquita, o ex-secretário de Estado de António Guterres Ricardo Sá Fernandes, o ex-membro da direcção da CGTP e do Movimento 3D Ulisses Garrido, o ex-parlamentar do BE e PS Miguel Vale de Almeida, o constitucionalista Pedro Bacelar Vasconcelos.

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