António Costa critica o Governo e recusa tomar partido no referendo grego

No Marão, secretário-geral do PS assumiu uma posição de "estrito respeito" pela soberania grega

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Costa esteve reunido com os autarcas do distrito de Viana do Castelo Nuno Ferreira Santos

Neste domingo os gregos vão às urnas para responder, em referendo, se deverá ser aceite o projecto apresentado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional no Eurogrupo de 25 de Junho. À margem de uma visita ao Túnel do Marão, obra que integra a auto-estrada do Marão que está em construção entre Amarante e Vila Real, o líder do PS foi questionado pelos jornalistas sobre o referendo grego.

"Se tivesse direito de voto não gostaria que quem não tem se pronunciasse como se o referendo fosse em Portugal. Não gostaria de ver os nacionais de outros países a dizerem como é que nós devíamos votar", salientou António Costa.

O secretário-geral do PS assumiu "uma posição de estrito respeito pela soberania nacional" grega.

"Como português gostava que tivessem os alemães ou os gregos a dizer como é que devem votar? Não gostava. Eu não gosto que façam aos outros o que não gosto que façam a mim", referiu.

Costa disse ainda respeitar aquilo que é a soberania da decisão do povo grego da mesma forma como já se respeitou, no passado, as decisões de outros referendos na Holanda ou França.

Já de tarde, no encerramento do II Fórum dos Movimentos Sociais, promovido no Porto pela JS, Costa sustentou que as últimas semanas na Grécia têm sido "a dramática ilustração do que seria a situação em Portugal se não houvesse em Portugal o PS" e o país estivesse assim condenado "a ter de escolher a continuidade da austeridade que a direita defende ou a rutura com o euro que a esquerda radical defende".

"A verdade é que há alternativa e tem de haver alternativa porque a Grécia é mesmo o melhor exemplo de como a austeridade não resolveu nenhum problema. (…) Mas a Grécia também é bem a ilustração de que a saída do euro para resolver os problemas é uma ilusão falsa, porque a saída do euro só significa empobrecer ainda mais quem já empobreceu o bastante e demais com a própria austeridade", defendeu.

É por este motivo, de acordo com o secretário-geral do PS, que o partido se empenha em "afirmar uma alternativa de confiança", uma vez que "rompe com a austeridade e faz diferente", mas "não se mete em aventuras e não nos faz sentir da Zona Euro".

António Costa falou ainda de alguns mitos que se criaram sobre a Europa e esclareceu que "decidir quem governa em Portugal determina saber quem se senta à mesa no Conselho Europeu em Bruxelas", sendo, na sua opinião, a escolha "muito simples".

"Quem votar na coligação de direita, vota para que, em Bruxelas, fale em nome de Portugal o Dr. Passos Coelho e o que dirá é que quer austeridade para a Grécia, para a Espanha, para a Irlanda, para a Itália, porque quer superausteridade para Portugal", alertou.

No entanto, o líder do PS garante que há alternativa se, "em vez de sentar o Dr. Pedro Passos Coelho, se sentar o líder do PS e defender em Bruxelas uma política diferente daquela política que a direita defende".

De manhã, no Marão, António Costa, comentou as notícias que apontam para um agravamento do défice português de 2014 em 6% devido à venda do Novo Banco mas disse querer esperar pelo resultado final.

"Desde o primeiro minuto que tenho chamado a atenção de que foi uma precipitação o Governo e o Banco de Portugal terem garantido, à partida, que não haveria custos para os contribuintes. Não quero dizer nada neste momento que possa dificultar a negociação por parte do Estado", salientou o líder socialista aos jornalistas.

António Costa reagia à notícia do semanário Expresso segundo a qual a venda do Novo Banco pode levar "o défice do ano passado aos 6%".

Segundo o jornal, o valor em causa depende do preço final de venda do banco que será negociado nas próximas semanas. O Fundo de Resolução injectou 4,9 mil milhões de euros no Novo Banco e a melhor proposta em cima da mesa ronda os 4,2 mil milhões de euros.

"Não vamos especular, aguardemos serenamente pelos resultados finais, temos que desejar é que seja possível ao Estado poder fazer a melhor venda possível. Não vamos fazer previsões nem especulações, deixemos este processo chegar ao fim e nessa altura as contas serão feitas", salientou.

António Costa subiu à serra do Marão, à entrada do lado de Amarante do túnel rodoviário, inserido na auto-estrada que vai ligar esta terra a Vila Real, para denunciar um dos "sete pecados capitais" do Governo PSD/CDS.

"Escolhi esta obra porque é uma obra exemplar, daquelas que ninguém questiona a sua importância para reforçar a coesão territorial e para diminuir a sinistralidade, e onde a paralisação é um bom exemplo de como saiu muito caro ao Estado e ao conjunto da sociedade", afirmou aos jornalistas.

A construção da auto-estrada do Marão parou em toda a extensão em Junho de 2011, logo após a tomada de posse do Governo de coligação, tendo sido retomada apenas no verão do ano passado.

António Costa salientou que a paralisação provocou "desde logo 1400 despedimentos", adiou por quatro anos a conclusão de uma obra "essencial para reforçar a coesão territorial" e, "ao fim disto tudo, o Estado tem que fazer um novo contrato, onde teve um acréscimo de 25% nos custos".

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