António Costa fala em "desleixo" do Governo e do governador do Banco de Portugal

Líder do PS pede solução "urgente" para crise dos preços do leite.

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António Costa diz que é preciso unir a esquerda para derrotar a direita Daniel Rocha

O secretário-geral do PS, António Costa, voltou esta quarta-feira a criticar o Governo e o governador do Banco de Portugal por causa do processo relacionado com a extinção do BES e a criação do Novo Banco, acusando-os de "desleixo".

Respondendo a questões dos jornalistas sobre o Novo Banco e o impacto que poderá ter nas contas públicas o adiamento da venda da instituição bancária, António Costa começou por dizer que mantém "a regra" que definiu de enquanto decorrerem negociações, "não dizer nada" que as possa perturbar.

No entanto, acrescentou que "as dificuldades" que estão a surgir e "as preocupações que hoje cada vez mais pessoas têm só demonstram bem a ligeireza com que o Governo e o senhor governador do Banco de Portugal [Carlos Costa] vieram a correr no Verão passado assegurar que tinham uma solução mágica que não teria qualquer tipo de custo para o sistema financeiro e qualquer tipo de custo para o contribuinte".

"Já vimos como foram precipitadas essas declarações e eu não os quero imitar, não serei precipitado e aguardemos", acrescentou, dizendo que é preciso aguardar pelo desfecho do processo para então o avaliar.

"Como portugueses, aquilo que temos todos de desejar é que as negociações corram o melhor possível e que o resultado seja o melhor possível para a protecção do nosso sistema financeiro e para a protecção dos contribuintes", disse.

António Costa, que falava na Ribeira Grande, nos Açores, reiterou ainda aquilo que já havia dito na terça-feira, ao considerar "muito grave" que Governo e governador do Banco de Portugal tenham "querido iludir os contribuintes dos riscos" da decisão que tomaram.

"Já bastava terem iludido o mercado, terem iludido os investidores convencendo-os de que valia a pena investirem numa instituição que era segura quando estávamos a poucas semanas do colapso dessa instituição. Basta de imprudências, basta de ligeirezas, e é preciso que rapidamente esta situação se esclareça e depois façamos então a avaliação", acrescentou.

Por seu lado, a porta-voz do BE, Catarina Martins, declarou que o potencial comprador chinês do Novo Banco, a chinesa Fosun, "é um susto", recordando o negócio do mesmo investidor asiático relativo à seguradora Fidelidade.

"A Fosun é um susto porque comprou a Fidelidade com o dinheiro da própria Fidelidade. Deu mil milhões de euros e depois foi lá buscá-los para pagar o negócio que já tinha feito. Ter quem já fez este esquema com a Fidelidade a fazer o mesmo com o Novo Banco não é certamente bom para o país", afirmou a dirigente bloquista, à margem de uma acção de pré-campanha em Lisboa.

Segundo a porta-voz bloquista, "o ministro da Economia tem uma certa piada, às vezes, a falar. Pires de Lima afirmou que as coisas também têm de se fazer bem feitas", mostrando-se confiante "na capacidade do senhor governador [Carlos Costa] e no Banco de Portugal para conduzirem este processo de forma competente e diligente".

"Lembro que nos têm dito sempre que não há riscos para os contribuintes no Novo Banco, agora até o Governo já reconhece que há. Não sei onde o ministro anda com a cabeça. Talvez fosse bom que olhasse para o país, mas quem nunca teve essa capacidade, não é agora em final de mandato que a vai ter", afirmou a deputada do BE.

Que resposta para a crise do leite?
Na Ribeira Grande (Açores), o secretário-geral do Partido Socialista criticou ainda o Governo porque, afirma, não tem sabido defender os interesses nacionais em diversas frentes e considerou "urgente encontrar uma resposta" para a crise do preço do leite.

António Costa disse aos jornalistas que o Governo, "infelizmente", não deu "a devida atenção" à situação do sector do leite, que enfrenta uma crise de preços associada ao embargo russo aos laticínios europeus e ao fim das quotas de produção, em Abril passado.

"Os produtores de leite estão numa situação difícil. Queria expressar-lhes a minha solidariedade, mas também o meu sentido de incompreensão por este Governo que, nas diferentes frentes das relações internacionais se tem mostrado sempre um Governo que não está à altura da autoestima e da defesa dos interesses nacionais", afirmou.

António Costa considerou que o executivo "esteve de cócoras perante a troika, foi desleixado no tratamento da questão da base das Lajes, distraiu-se na questão da quota da sardinha" e também nesta "crise leiteira não esteve à altura daquilo que devia estar".

"É urgente encontrar uma resposta ao nível da União Europeia para aquilo que é a crise do leite de forma a procurar não só encontrar bons mecanismos de escoamento da produção como para apoiar o rendimento dos produtores que estão a ser seriamente afectados", acrescentou, sublinhando que este é um setor "muito importante" da agricultura nacional e, em especial, nos Açores, região que produção 30% do leite nacional.

 

 

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