Alemanha responde a Sócrates e diz ser fiável com Portugal

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Ministro alemão das Finanças a quem Sócrates chamou "estupor" e "filho da mãe" JOHN KOLESIDIS/REUTERS

As declarações do antigo primeiro-ministro José Sócrates, publicadas na última edição do semanário Expresso, mereceram uma tomada de posição pública da embaixada da Alemanha em Lisboa, nesta terça-feira. Berlim afirma que sempre foi um parceiro fiável de Portugal, que contribuiu para o financiamento do resgate europeu, englobado na troika, e para os fundos estruturais da União Europeia (UE), e assegura a sua contribuição no futuro.

“A Alemanha sempre foi um parceiro fiável e tem apoiado Portugal na superação da crise financeira. Assegurar a estabilidade da moeda comum, bem como emergir desta crise de forma fortalecida, com maior crescimento e emprego, foram e continuam a formar o interesse comum de ambos os países”, começa por destacar a nota da delegação diplomática. 

A missiva prossegue: “O Governo federal da Alemanha tem sempre apoiado o seu parceiro português nas necessárias e frequentemente difíceis medidas adoptadas." E, a concluir, o texto destaca: “Para tal, a Alemanha deu desde o início – e de forma resoluta – o seu grande contributo aos fundos de resgate europeus e aos fundos estruturais da UE. Também no futuro Portugal poderá continuar a contar com a Alemanha.”

No total, são escassos 640 caracteres cheios de significado. O PÚBLICO sabe que o texto da embaixada alemã em Lisboa foi trabalhado com os ministérios dos Negócios Estrangeiros e das Finanças de Berlim. O facto desta delegação diplomática ter saído a terreiro deve-se a perguntas dos órgãos de comunicação sobre o teor de algumas das declarações de José Sócrates ao Expresso do passado fim-de-semana.

Naquela entrevista, o ex-primeiro-ministro e antigo líder dos socialistas portugueses abordou vários temas. Com destaque para os esforços do seu último Governo para evitar o resgate da troika. Batalha travada em 2011 e que leva ao seguinte relato de um jantar na capital alemã com as autoridades daquele país. “A Merkel está do outro lado com aquele estupor das Finanças, o Schäuble, que foi agora corrido. Todos os dias esse filho da mãe punha notícias contra nós. E ligávamos para o gabinete da Merkel e ela, com quem me dava bem, dizia que vinha do gabinete do ministro das Finanças. No jantar, ela pô-lo ao lado para o comprometer. Disse: 'Devo ser a única na Alemanha que acha que vocês não precisam de ajuda'.”

A diplomacia alemã nada adianta sobre as razões para a divulgação desta nota, algo pouco usual. A forma é deliberadamente sintética e o tom propositadamente seco. A alusão do antigo primeiro-ministro a divergência no seio do executivo de Berlim sobre Portugal entre a chanceler e o seu ministro das Finanças, não terão agradado. Bem como a imputação a Schäuble de divulgação de notícias prejudiciais a um parceiro comunitário. À margem da linguagem crua com que o até há pouco ministro das Finanças da Alemanha foi classificado.

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