Albuquerque chocado com comentários “imbecis” contra o acolhimento de refugiados

O anúncio do Governo madeirense em acolher refugiados no arquipélago, não está a ser pacífico. Grupos no Facebook contra, comentários xenófobos e até a intenção de convocar uma manifestação de protesto.

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Miguel Albuquerque Helder Santos/AFP

O presidente do Governo regional da Madeira está “chocado” com os comentários “xenófobos” e “imbecis” que estão a ser feitos nas redes sociais contra o acolhimento de refugiados no arquipélago.

Desde que, na semana passada, o executivo de Miguel Albuquerque anunciou a disponibilidade da Madeira em contribuir para o “esforço” do país na recepção de refugiados da guerra da Síria, que foram criadas páginas de protesto no Facebook, e está mesmo a ser promovida uma manifestação contra a vinda de migrantes. 

Bastante crítico, Miguel Albuquerque reagiu ao que considera ser comentários “maldosos, egoístas” e “sobretudo imbecis”, lembrando a forte tradição de emigração na Madeira.

“Fiquei chocado, porque alguns dos comentários não só são xenófobos como maldosos, egoístas, mas, sobretudo, porque são imbecis”, disse Albuquerque, que discursava na Sessão Solene do Dia do Município da Ponta do Sol, a Oeste do Funchal.

Esta, continuou, é altura de ser solidário, principalmente a Madeira, que é uma região de emigrantes. “Não é admissível que uma região como a Madeira, com uma tradição de emigração, tenha qualquer hesitação perante aquela que é uma obrigação da humanidade”, sublinhou, argumentando com a situação de guerra, fome e desespero que atinge os países de origem dos refugiados que estão a chegar à Europa.

A questão, disse Albuquerque, não é se existe muito ou pouco desemprego na Madeira. Nem se será necessário repartir os subsídios de apoio social. “É uma questão de valores. Se perdermos os valores que nos distinguem de outros animais, tudo está perdido.”

Frisando que a Madeira vai mesmo acolher os cerca de 70 refugiados previstos, o líder do executivo madeirense, garantiu um acolhimento profissional e efectivo. “Vamos aguardar a decisão que vai ser tomada pela União Europeia, e estamos dispostos a acolher de braços abertos outros seres humanos que têm a necessidade imperativa de serem acolhidos na nossa civilização democrática, civilizada e humanizante”, afirmou, descansando os que temem uma islamização da Europa e o aumento no desemprego com dados demográficos europeus.

“A União Europeia tem perto de 500 milhões de habitantes, qual é o problema de acolher 400 mil ou mesmo um milhão de refugiados?”, questionou, dizendo que o desemprego regional será combatido, através de políticas de crescimento económico.

O Governo madeirense anunciou quinta-feira passada a intenção de receber refugiados, em articulação com as autoridades nacionais. Na altura, o executivo garantiu condições dignas ao nível de saúde, habitação e acesso à educação para os refugiados e migrantes que chegarem, destacando a “generosidade e solidariedade” que é “reconhecida” nos madeirenses.

Mas a “emergência humanitária” que a Quinta Vigia diz que a Madeira “não pode, nem quer estar alheia” está a provocar muita polémica e receios.

Os argumentos das vozes de protesto assentam nas dificuldades económicas que a Madeira atravessa, com o desemprego a bater recordes e a provocar, ironicamente, um aumento na emigração entre os madeirenses. O fundamentalismo islâmico é outra das preocupações, com a partilha de vídeos e imagens – muitos descontextualizados – a ilustrar comportamentos agressivos de muçulmanos.

Perante tudo isto, Albuquerque insiste que a Madeira não vai defraudar as expectativas de todos aqueles que olharem para o arquipélago como um porto seguro.

Mesmo sem números concretos, a Madeira aguarda pelas decisões de Bruxelas sobre esta matéria, a ideia do Governo regional e receber famílias, instalando-as em zonas rurais.

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