Afonso Camões deixa a agência Lusa e vai ser director do Jornal de Notícias

Presidente demissionário mantém-se no cargo até final de Outubro para que os accionistas designem um substituto.

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O presidente da administração da Lusa, Afonso Camões, anunciou esta terça-feira aos trabalhadores que renunciou ao cargo que ocupa na agência. O PÚBLICO confirmou que o antigo jornalista passará a ser o novo director do Jornal de Notícias dentro de um mês.

Afonso Camões transitara de administrador executivo da Controlinveste Media para administrador da agência noticiosa em Setembro de 2005 no quadro da rotatividade de gestores que os diversos accionistas da Lusa têm no conselho de administração. Desde Março de 2009 que era presidente do conselho de administração e administrador delegado da agência, cujo capital maioritário (50,14%) é ainda estatal.

Tal como o PÚBLICO noticiou em meados de Agosto, o nome de Afonso Camões era um dos estudados há perto de dois meses para liderar o título nortenho da Controlinveste depois da saída do director Manuel Tavares, que foi ocupar o cargo de director-geral da FC Porto Media, a empresa que gere as áreas de negócios de media do clube.

O seu novo desafio será agora desenvolvido mais a Norte, no Jornal de Notícias, no âmbito da reestruturação que a nova administração da holding Controlinveste, liderada pelo advogado Proença de Carvalho, está a fazer em todo o portfólio. O grupo que detém, além do JN, o Diário de Notícias, O Jogo, a TSF, o DN Madeira, entre outros títulos, é agora detido por Joaquim Oliveira (27,5%), António Mosquito (27,5%), Luís Montez, BES e Millennium bcp – qualquer dos três com 15%.

A administração da Controlinveste confirmou entretanto que convidou Camões para director do JN e que irá pedir o necessário parecer ao Conselho de Redacção daquele diário.

Já o gabinete do ministro da tutela disse ao PÚBLICO que Miguel Poiares Maduro foi informado esta tarde da renúncia "por razões estritamente profissionais" de Afonso Camões, que se manterá em funções até ao final de Outubro. "Durante este período os accionistas da Lusa terão de encontrar uma solução para a sua substituição", acrescenta o gabinete de Poiares Maduro, que fez questão de salientar que a relação entre os dois "foi sempre muito cordial".

Carta com críticas ao financiamento
Ainda que tenha havido cordialidade, na comunicação interna que deixou, o presidente demissionário não se coibiu de fazer críticas à actuação da tutela em termos financeiros. Na carta que enviou aos trabalhadores, Afonso Camões diz que parte com a consciência de que com todos os quadros da agência, “e apesar dos constrangimentos” financeiros impostos pelo Governo, prestaram “bons serviços” e garantiram “boas contas”. “Sem nunca perdermos de vista o sentido do interesse público, as obrigações contratuais com o Estado e com os nossos clientes, e a medida da nossa missão, nos planos ético e profissional”, acrescenta.

“Está hoje claro que a Lusa é sustentável, mas o Estado não está a pagar o custo real dos serviços prestados pela agência”, aponta Afonso Camões que há dois anos teve que enfrentar uma greve de quatro dias na agência na sequência dos cortes financeiros impostos pela tutela, então ainda nas mãos do ministro Miguel Relvas. 

“Não fora o desequilíbrio financeiro provocado por factores externos à gestão corrente, a nossa realização orçamental e os resultados operacionais positivos já nos teriam permitido voltar aos lucros – este ano mesmo!”, anuncia o presidente demissionário.

É do contrato de prestação de serviços ao Estado que advêm 70% das receitas da agência. Este ano a agência recebeu 13 milhões de euros – em 2012 eram 19 milhões mas foram cortados no ano seguinte mercê de um novo contrato – incluindo o IVA. Os restantes 30% são assegurados pela venda de conteúdos aos órgãos de comunicação social.

Este financiamento estatal que “permite, em boa medida, manter serviços claramente não rendíveis, mas decisivos para os objectivos da agência”, descreveu Afonso Camões, enumerando a rede de correspondentes em 52 pontos em Portugal e em 28 países. Este dispositivo de “coesão nacional” como lhe chama o presidente demissionário, “custa 10,7 milhões de euros ao Estado, ou seja um euro por ano, repito: um euro por ano a cada português – sem contar com os nossos compatriotas na diáspora…”, realça na carta aos trabalhadores.

“Reduzi-la [a receita proveniente do Estado] ou admitir a sua inexistência anularia radicalmente esta vertente estratégica e diplomática de afirmação dos interesses portugueses e da lusofonia”, defende Afonso Camões cuja administração levou a tutela a tribunal por ter sido cortada unilateralmente uma parcela do financiamento.

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