Adelino Gomes recebe prémio Igrejas Caeiro

Galardão distingue carreiras radiofónicas.

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Enric Vives-Rubio

Uma geração separa os dois radialistas, mas nem por isso os desafios da rádio mudaram muito entre o tempo em que Igrejas Caeiro começou a sua carreira radiofónica, no início dos anos 40, e o momento em que Adelino Gomes se estreou aos microfones, vinte anos depois.

Adelino Gomes, que esta segunda-feira ao fim da tarde recebe na SPA – Sociedade Portuguesa de Autores, o Prémio Igrejas Caeiro, diz que a distinção é uma “honra”, realça o perfil de Caeiro - a “figura maior da rádio portuguesa”-, e afirma que os dois desafios principais que os radialistas enfrentavam nos anos 40 e 60 se mantêm – a “qualidade” e a “responsabilidade”.

Igrejas Caeiro conseguiu “o mais complicado da profissão de jornalista: fazer programas de grande qualidade e com grande audiência. O Perfil do Artista era para a elite com literacia; o Companheiros da Alegria era para toda a gente”, recorda Adelino Gomes. Que acrescenta a coragem do antigo radialista de dizer “não” ao regime e tomar posições que lhe chegaram a custar o emprego.

“Em 1948, um programa de qualidade tinha um formato e características técnicas que não tem hoje. Mas a exigência de qualidade é a mesma: superação do normal, do que sabemos, e procurar conhecimento mais além; o encontro perfeito da forma e do conteúdo.” Também a “responsabilidade cidadã” se mantém em relação aos ouvintes, leitores, espectadores.

Adelino Gomes admite alguma “arrogância” da sua geração quando esta chegou aos microfones, pensando que “ia salvar a rádio” ou “inventar a roda”. “A roda estava inventada; talvez fosse necessário inventar novos pneus, um novo design, adequar a velocidade às melhores condições da estrada”, ironiza o jornalista.

Aquele era o tempo da comunicação radiofónica unidireccional. “O máximo que os ouvintes faziam era pedir discos repetindo a frase do dia. Hoje os ouvintes dão notícias antes de nós, põem música e vídeos no YouTube. Como é que vai ser o futuro do jornalista com estas pessoas que não são jornalistas? O jornalista tem que continuar a prestar informação aos cidadãos e ser profissional 24 horas por dia”, aponta Adelino Gomes. “Só o futuro dirá como é que se alia, sem atritos, essa mega-redacção que são todos os cidadãos e uma redacção profissional”, acrescenta.

Sobre a predominância da TV e imprensa sobre a rádio, Adelino Gomes considera que foi esta última que se adaptou melhor aos desafios do desenvolvimento social e tecnológico. “Não é menos ouvida que antes e soube usar também todas as plataformas. A internet acaba por representar as antenas que a rádio não tinha e permite-lhe estar em todo o lado com qualidade de FM estéreo”, defende o jornalista. Mas a batalha não está ganha: também a rádio tem de encontrar, como a TV e os jornais procuram, o modelo empresarial e técnico que lhe permita “sobreviver sem ter um custo incomportável para os ouvintes; e ao mesmo tempo um discurso sonoro diferente, e de que as audiências continuem a sentir necessidade”.

Doutorado em Sociologia pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, onde ainda permanece como investigador associado, Adelino Gomes, de 70 anos, começou na Rádio Universidade, quando cursava Direito e Filosofia. Nessa altura partilhava a atenção entre os compêndios universitários e os cursos bem mais práticos de formação para jornalistas do Sindicato Nacional de Jornalistas e do Diário Popular.

Num registo já profissional, passou pelo Rádio Clube Português, Rádio Renascença, foi correspondente da Deutsche Welle. São conhecidos os seus relatos e entrevistas em directo, nas ruas de Lisboa, durante o 25 de Abril de 1974. Trabalhou depois na RTP e na RDP, assumindo o cargo de director de informação da Antena 1 entre 1995 e 1998. Nos três anos seguintes foi director-adjunto do PÚBLICO – um regresso a um jornal que ajudara a fundar em 1989. Entre 2008 e 2010 exerceu a função de provedor do ouvinte da RDP.

A sua carreira jornalística foi complementada com a docente, especialmente virada para a formação em rádio, como aconteceu no Cenjor – Centro de Formação de Jornalistas, Escola Superior de meios de Comunicação Social /1975-1981), Escola Superior de Jornalismo do Porto e Universidade Autónoma de Lisboa (entre 1992 e 2002).

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