A única offshore que não faz o Bloco enjoar

Para Catarina Martins, apelo de Passos as consensos não é para levar a sério.

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Apesar de no final da manhã o sol ter aberto, o dia amanheceu cinzento em Olhão. A porta-voz do Bloco de Esquerda Catarina Martins chega ao porto local por volta das 9h30, acompanhada pelo cabeça de lista por Faro, João Vasconcelos. Chega com sono, as horas de campanha já pesam, mas não sem boa-disposição. É, aliás, para não se sentir ainda mais sonolenta que não toma qualquer comprimido para o enjoo e entra sorridente no barco Mar da Armona, na ria Formosa, preparada para mais de duas horas de uma viagem que a afastará milha e meia da costa.

O objectivo da iniciativa é dar a conhecer aquilo que o Bloco considera um bom exemplo de um projecto nacional. No caso, trata-se da Companhia Pescaria do Algarve, que se dedica à aquacultura offshore de mexilhão e de ostras em alto mar – deve ser a primeira vez que os bloquistas incluem no seu léxico e de forma elogiosa a expressão offshore.

Os bivalves são apanhados no mar, separados no barco e seguem depois para a fábrica. Tudo é feito de forma a respeitar o ambiente e os ciclos naturais. No fim, são vendidos em Portugal e lá fora, explica ainda o presidente executivo desta empresa, António Farinha, que garante que esta empresa é a maior produtora de bivalves da Península Ibérica.

Para Catarina Martins, este projecto representa aquilo que o país devia ser: alia à actividade preocupações ambientais e cria emprego e valor que não sai logo do país, também fica cá. A porta-voz acusa o Governo de incluir no discurso o tema das exportações quando muitas vezes, salienta, elas são feitas a baixo custo e suportadas por baixos salários.

É a primeira vez que Catarina Martins assiste a este processo: as redes são lançadas ao mar, os bivalves despejados depois em tanques dentro do barco, onde se faz logo a separação. Os que ainda são pequenos regressam à água.

Apesar do ambiente descontraído de toda a viagem, a porta-voz também ouviu queixas, sobretudo acerca da burocracia e da falta de transparência de alguns organismos do sector, como o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. António Farinha lamenta que este instituto já tenha chegado a proibir a pesca com base em análises que acusam a presença de toxinas, sem no entanto as ter tornado públicas. Quanto à excessiva burocracia, prejudica o negócio: “Quem quiser apresentar um projecto, espera um ano para que haja uma decisão sobre esse projecto de investimento”, diz António Farinha.

À margem da iniciativa, a porta-voz do Bloco desvalorizou as declarações do presidente do PSD e primeiro-ministro Passos Coelho que se mostrou disponível para compromissos com todos os partidos com assento parlamentar depois das eleições legislativas.

Catarina Martins considerou que não são para levar a sério, porque vêm de alguém que “também disse que não ia cortar o subsídio de Natal” e, depois, “foi a primeira medida” que tomou. “Estamos a falar do primeiro-ministro que não cumpriu uma única meta a que se propôs e que fez o maior número de orçamentos rectificativos, porque nem a Constituição soube cumprir”, afirmou.

 

 

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