A um mês…

A situação de empate técnico faz com que se multipliquem as mensagens quer por parte do PS, quer por parte da coligação na tentativa de cativar eleitores.

É dos livros que o voto dos indecisos se define no último mês de campanha e que, por isso, quando as sondagens apresentam resultados próximos do empate técnico as eleições só se fecham já no período final. É também dos livros que o eleitorado indeciso é influenciado menos por grandes linhas ideológicas ou programáticas e mais pelos sinais que recebe da realidade envolvente e das mensagens políticas que dizem respeito às implicações que a gestão governativa tem sobre a sua vida.

Estas duas regras práticas sobre eleições dificultam todas as análises prévias e impossibilitam ideias fechadas sobre o que será o resultado das urnas a 4 de Outubro. E permitem que quer a coligação PSD-CDS quer o PS acalentem a esperança de ganhar o direito a formarem Governo. Uma expectativa de ambas as forças que não deverá desvanecer-se até ao fim.

A situação de empate técnico faz com que se multipliquem as mensagens quer por parte do PS, quer por parte da coligação na tentativa de cativar eleitores. O líder do PS, António Costa, faz o seu papel de garantir que tem uma alternativa de governação que melhorará mais e mais rapidamente os problemas do país e trará melhor qualidade de vida. Estruturou uma proposta de governação, assume-a como projecto para o país inserido numa visão alternativa da União Europeia, depois de garantir que essas ideias e projectos foram estudados e experimentados por técnicos competentes, o chefe dos quais, Mário Centeno, se perfila perante o país como candidato a ministro das Finanças.

António Costa procura manter as expectativas, aumentar os apoios e cativar eleitores, apostando em beneficiar do desgaste do Governo e da azia profunda que existe em alguns sectores sociais em relação aos últimos quatro anos de governação. E fá-lo mesmo perante os disparates e os os tiros nos pés do próprio PS que a estrutura de campanha vai dando, como foi o caso dos cartazes. Ou procurando escapar aos estilhaços que sobre o partido vão caindo da bomba contra-relógio que é o caso da Operação Marquês – é inegável que a prisão preventiva de José Sócrates abalou profundamente o PS, que ficou e estruturalmente fragilizado, por mais que António Costa tenha conseguido adoptar uma atitude de distanciamento que procura funcionar como uma espécie de cordão sanitário em relação ao ex-líder.

Por seu lado, os líderes da coligação e actuais responsáveis pelo Governo cumprem a sua estratégia à risca. Apostaram as fichas da governação ao longo da legislatura para que no último ano desta, já com a troika fora de Portugal, a melhoria da situação do país começasse a ser evidente. E os indicadores do défice, do desemprego e do crescimento da economia mostram isso. Um pano de fundo que serve a Passos Coelho para chamar a si o discurso messiânico de que o seu Governo tirou o país do vale de crise e lágrimas e o levou a iniciar uma subida da montanha, a qual não está ainda concluída, pelo que corre o risco de resvalar encosta abaixo. Um caminho que tem de ser continuado e para o qual não há alternativas, acenando assim com o medo do regresso da crise. Para Paulo Portas fica o papel de atacar a oposição e de propagandear a alegada inconsistência da proposta dos socialistas.

No próximo mês, quer a coligação quer o PS irão jogar tudo por tudo para ganhar a confiança dos eleitores indecisos. E se os sinais positivos da economia podem ser razão para a coligação se sentir fortalecida e com ânimo. É um facto também que o PS não desarma e que António Costa tem procurado fortalecer a sua estratégia ao dar protagonismo a Mário Centeno, como garantia de que este partido tem uma proposta sólida de governação que permitirá mais rapidamente melhorar a situação o país e das pessoas.

E por mais qualificada que seja a capacidade de análise da opinião publicada e dos comentadores, a imprevisibilidade do desfecho final é absoluta. Isto porque se de um lado a segurança da coligação cresce cada vez que os indicadores económicos melhoram, a verdade é que as imagens que a comunicação social amplifica da rua dão sinais de confiança ao PS. Basta ler as reportagens e ver as fotos da forma como António Costa foi recebido em Santo Tirso.

É certo que qualquer máquina de campanha pega no candidato a primeiro-ministro ao colo e o passeia perante as câmaras de televisão. Mas o que se passou foi mais que isso. Mesmo tendo em conta que António Costa joga numa terra maioritariamente PS e mesmo sabendo-se que todas as máquinas de campanha dos grandes partidos recorrem a camionetas para deslocar militantes e tentarem encher espaços, a quantidade de gente e a temperatura da rua que, no domingo, recebeu António Costa aproximou-se de níveis de final de campanha eleitoral vitoriosa. Mas ainda falta um mês de estrada…

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