A presidenciais e as queixas dos leitores

MRS, está a tentar extrair para os grandes dividendos da sua campanha eleitoralista o estatuto que gozou de “tempo de antena” durante estes últimos imensos anos, graças à RTP e à TVI.

A campanha para as presidenciais oficialmente só ontem começou. Mas a pré-campanha foi objecto de alguma polémica, embora pálida e vazia sobre o que verdadeiramente interessa e está em jogo, ou seja, quem será, e de que modo será, o “timoneiro” deste país. Relegada a extrema importância do momento, mais parecia espaço de “entretenimento” como a maior parte dos debates televisivos fez passar.

Contudo o volume de queixas que recebi daria para editar pelo menos três páginas deste jornal. Vou limitar-me a fazer um breve comentário e a transcrever parte do teor dessas queixas. Em regra, são quase todas a criticar um “alegado” privilégio que o PÚBLICO tem dado ao candidato Marcelo Rebelo de Sousa. E verdade seja, que MRS está a usufruir deste “defeito” inconsciente de grande parte da “classe” dos jornalistas, esse enorme corporativismo, nem sempre bem disfarçado, e que tende a tratar como MRS “é, efectivamente, um dos nossos”.

Pelas sondagens e a consequente leitura dos analistas, e ajudado pelo ”jogo duplo” do PS, MRS é o “anunciado” vencedor. Porventura, de modo não tão fácil, se tivermos em conta a inversão ameaçada, nos últimos debates que teve com Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, onde chegou a evidenciar uma “irritação” que, como veterano homem de ecrã, não lhe é nada comum. E também pelos votos do BE e PC mal pontuados pelas sondagens.

Marcelo é um homem superinteligente. Porém, como quase todos os homens expostos longamente à vida pública, um sagaz malabarista que faz do sofisma a maneira mais hábil para esconder a mentira ou a contradição. MRS, está a tentar, embora acusando os outros candidatos de falta de experiência política, extrair para os grandes dividendos da sua campanha eleitoralista o estatuto que gozou de “tempo de antena” durante estes últimos imensos anos, graças à RTP e à TVI. E este ilusionismo manifesta pouca gratidão a quem lhe fez toda esta campanha, aliás não de graça, mas pagando-lhe o devido cachet, também compensador para as televisões pelas audiências conquistadas. É por isso que, hoje, dispensa cartazes e outras formas de propaganda e que até pode criticar os valores financeiros das campanhas dos outros candidatos. Todavia, feitas as contas, a sua campanha mediática foi até hoje a mais cara de todas. Por outro lado, pela categoria que tem e pelas condições que a Constituição impõe para ser candidato a Presidente da República não pode ter considerações como esta que fez a Sampaio da Nóvoa: “Acha bem ir de soldado raso a general?”. O povo não gosta destes “arrufos”. Antes, certo ou errado, aprecia sempre mais quem vem de baixo e se faz por si. Mas vamos às queixas contra o PÚBLICO.

1. O leitor Henrique de Melo escreve: “No Público de domingo, (3/01/16), - primeiro número saído após ter acabado a ‘Revista 2’ -  com espanto vi terem   dedicado a capa inteira a um dos candidatos presidenciais, MRS, com natural chamada de atenção para a extensa entrevista publicada no interior. Edição sem dúvida com inegável impacto mediático e pragmático chamariz de leitores, indispensável estabilizador das tiragens de qualquer jornal e nomeadamente do Público nesta sempre incerta fase subsequente a remodelações de formatos   e aumento de preço. Posso considerar como aceitável a nota explicativa do Editorial relacionando esta selectiva primazia   com o facto de MRS ser inquestionavelmente o candidato melhor colocado nas sondagens.  Mas já é surpreendente que aquele texto seja   omisso relativamente à indicação de idênticas oportunidades de destaque a   serem dadas aos restantes nove candidatos, ainda que apresentadas como declaração de intenção, ao serem factualmente impraticáveis por falta de domingos disponíveis.” (…)  

2. Por sua vez, o leitor Tiago João Silva lamenta: “Foi com grande pena que vi a capa do Público de Domingo, (03/01/16), ocupada na totalidade por um candidato presidencial que se gaba, precisamente, da sua pretensa virtude por não gastar dinheiro em outdoors. Como diz o povo, "assim também eu".

Como assinante digital do jornal, espero que nas semanas que restam até o final das eleições seja dado um destaque similar aos outros 9 candidatos.” (…) “É muito engraçado os jornalistas clamarem por apoio à sua função essencial numa democracia, mas depois se disporem a dar pontapés na mesma desta maneira.”

3. Queixa de idêntico teor é apresentada pelo leitor Armindo Santos: “Os órgãos de comunicação social estão, num país democrático, obrigados a dar tratamento equiparado a todos os candidatos a uma eleição. Creio que isso é opinião consensual para a esmagadora maioria dos portugueses e, portanto, também para a maioria dos leitores do Público.” (…) “Em prol de um jornalismo de decência, ético, espero a sua intervenção no sentido de evitar o que me parece estar em risco: o dever de isenção.”

4. “Uma vergonha e uma ofensa para os leitores que têm no PÚBLICO um jornal de referência é o que diz a queixa de José Alberto Tomé: “A edição de hoje do "Público" é uma vergonha e uma ofensa para muitos dos que têm por hábito comprar e ler um jornal dito "de referência"! A referência deveria estar no livro de estilo e julgo ser de algum modo considerada a imparcialidade político/partidária como um princípio a ter em conta. Se tal já não é assim deveriam avisar os leitores!” (…)

5. O leitor José Mesquita Alves, por sua vez, também manifesta o seu repúdio deste modo: (…) “Não posso calar o meu espanto e indignação pela capa do PÚBLICO de hoje, (3/01/2016), que apresenta uma foto de página inteira do candidato às eleições presidenciais de 24 de Janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa!” (…)

6. POSIÇÃO DA DIRECÇÃO EDITORIAL DO PÚBLICO

OBVIAMENTE como não poderia deixar de ser dirigi-me à directora da secção Política/Nacional do PÚBLICO, a jornalista Leonete Botelho, a solicitar o seu comentário a estas queixas. Ei-lo:

“A este respeito, posso dizer que foram feitas, até agora, entrevistas a sete candidatos presidenciais. Antes de Marcelo Rebelo de Sousa, foram entrevistados Henrique Neto, Paulo Morais, Edgar Silva, Marisa Matias, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, embora esta ainda antes de ter anunciado a sua candidatura. 

Maria de Belém foi já entrevistada de novo esta semana e a entrevista será publicada no sábado, num formato próximo da de Marcelo Rebelo de Sousa. As diferenças que venham a verificar-se derivam do facto de a entrevista sair num jornal de formato diferente, uma vez que o novo jornal de domingo, como sabe, tem um modelo específico de longo formato. E a entrevista só não é publicada no domingo devido ao arranque da campanha eleitoral, que implica um trabalho próprio e mais abrangente.

Sampaio da Nóvoa será também entrevistado no mesmo modelo na próxima semana. Os três candidatos mais bem colocados nas sondagens, os únicos que poderão disputar uma segunda volta, terão entrevista também feita em vídeo. Só Marcelo Rebelo de Sousa terá uma única entrevista, tal como os outros cinco candidatos já referidos. No próximo domingo, dia de arranque oficial da campanha eleitoral, colocaremos online um micro-site dedicado à campanha, onde todos os candidatos terão entradas próprias, com todos os elementos recolhidos sobre cada um, as respectivas entrevistas e as informações essenciais. Acompanharemos todas as candidaturas, embora naturalmente não com a mesma intensidade. Esperamos assim contribuir para o esclarecimento dos nossos leitores, mas não temos a pretensão nem possibilidade de cobrir em igualdade de circunstâncias todos os candidatos. Infelizmente isso não é possível, por dispormos de meios limitados. (…)

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