A Dona Constança foi à festa (e a Caixa está de luto)

Na semana da morte de Fidel, vimos um Rei contestado e um ditador elogiado. Vimos também um Presidente a fazer a festa. Era tudo tão simples, se a Caixa não estivesse em perigo.

Fidel morreu, mas não era um ditador. O Rei está vivo, mas não é um democrata. Há valores invertidos na discussão política em Portugal, o país que tem um Rei eleito, de popularidade cubana. A Caixa é que ninguém disfarça: é hora de a salvar. Centeno conseguirá?

Marcelo Rebelo de Sousa, 18
Como é que dizia António Vitorino? Não há festa nem festança sem a Dona Constança. Só que, agora, a Dona Constança vai à festa. Era ver Marcelo na pele de Rei, tão Rei como Filipe VI na visita oficial que fez esta semana a Portugal, em abraços e beijinhos, a distribuir simpatia como nenhum outro político sabe fazer. E Marcelo sabe. Seja a distribuir sorrisos, seja a fugir a polémicas. Não admira, assim, que as sondagens lhe dêem uma taxa de aprovação de 97%, um resultado cubano, para usar uma palavra que marca a semana.

Sérgio Sousa Pinto, 15
A propósito de Fidel Castro e da sua morte, quem merece um voto de louvor é Sérgio Sousa Pinto. O actual deputado do PS foi um dos que, no partido, se recusaram a votar o texto de “pesar” pela morte do ditador, explicando com meridiana clarividência o porquê desse voto contra: "Devo ao 25 de Abril ter crescido em liberdade e democracia. Não me vou prostrar em homenagem a um ditador que negou ao seu povo o que eu prezo acima de tudo”. Numa semana em que se ouviram tantos louvores ao homem que recusou fazer uma só eleição em 50 anos de regime, Sousa Pinto mostrou o que é ser livre.

Nuno Crato, 14. Nuno Crato teve esta semana o direito a um sucesso póstumo - única maneira de ver o sucesso nas políticas públicas. Um relatório, internacional e prestigiado, veio mostrar que o ensino da matemática em Portugal mudou para melhor, sobretudo no 4º ano. Gostemos ou não do ex-ministro da Educação, fãs ou não da sua política para o ensino (eu não sou), não sobram dúvidas que o primeiro mérito vai para ele. Convém é não esquecer Maria de Lurdes Rodrigues, por exemplo, que lançou as bases de uma nova política educativa, nomeadamente com a formação dada aos professores. 

Óscar Gaspar, 14
A Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, liderada pelo ex-secretário de Estado da Saúde, ganhou um trunfo extra para as negociações com o Ministério da Saúde, agora que chegou a hora de decidir o que fazer às PPP na Saúde. O estudo sobre os melhores hospitais do país colocou quatro PPP entre os cinco melhores do país, indicando que pelo menos na prática clínica nada de mal vem desta parceria com o sector público. Agora, entre os privados e a esquerda, para onde vai Adalberto Campos Fernandes?

Artur Anselmo, 13
A Academia das Ciências de Lisboa decidiu apresentar, ainda este ano, um estudo para aperfeiçoar o Acordo Ortográfico, sugerindo alterações e não o fim do acordo. desde já o regresso à utilização de algumas consoantes mudas. Sabendo que o tema é sensível, Artur Anselmo avisou que o acordo é “um problema científico e não político”, que deveria de ser resolvido definitivamente. O seu passo em frente é a prova de que há um papel para a Academia em Portugal, desde que seja usado com inteligência e sem medo.

Catarina Martins, 8
Entre os aplausos do PS, PSD e CDS, e a respeitosa homenagem de pé do PCP, o Bloco de Esquerda fez uma figura triste no Parlamento, quando Filipe VI acabou de discursar no Parlamento português. Percebendo que ninguém tinha percebido as razões do “silêncio sentado”, o Bloco emitiu uma nota explicativa, dizendo que não chancela regimes em que o chefe de Estado é designado por “relações de sangue e não por actos democráticos”. Um dia destes, alguém explicará também ao Bloco que há democracia em Espanha e não em Cuba.

Mário Centeno, 7
António Domingues demitiu-se mesmo e deixou o ministro das Finanças com uma caixa negra na mão. Não é só a substituição do presidente da CGD que se torna, agora, um risco. É o curto prazo para a substituição, sabendo da palavra decisiva e exigente de Frankfurt. É também a sua força política, quando as opções tomadas na Caixa forem de novo contestadas. E é o próprio processo de recapitalização que treme, estando umbilicalmente dependente da emissão de obrigações para privados. A DBRS e a S&P já avisaram, de forma clara: os investidores vão estar muito atentos à nova gestão do banco público. Escusado será dizer que, a partir daqui, nada mais pode falhar (e já vai um ano quase perdido).

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