A direita e as presidenciais

Marcelo só não conseguiu sobreviver à frente do PSD o suficiente para disputar legislativas. Será que vai de novo morrer na praia?

A mais de um ano de distância das eleições presidenciais e enquanto a esquerda parece ainda adormecida para a discussão de nomes e apenas a hipótese de candidatura de António Guterres é olhada como possibilidade, a direita portuguesa vive o que se pode chamar de primárias de candidatos a ocupar o Palácio de Belém.

O facto de a direita estar bastante desgastada pelo Governo do PSD e do CDS e pela presidência de Cavaco Silva poderá ser uma das razões de existir já uma profusão de nomes e uma visível ansiedade para encontrar o candidato certo, na expectativa de que ele possa receber de Cavaco Silva as chaves do poder do mais alto cargo do Estado. Mas essa busca pode ser também determinada pelo facto de nenhum nome se apresentar à partida como suficientemente forte e incontestável.

A incerteza da vitória ou mesmo o medo da derrota e o estado de indecisão ou até de desorientação que a direita portuguesa vive em relação à escolha a fazer para as Presidenciais de 2016 permitem a existência de um leque de candidatos que de alguma forma se atropelam pelo mesmo nicho de mercado eleitoral.

À cabeça está o antigo presidente do PSD e antigo primeiro-ministro Durão Barroso, cuja perspectiva de vir a ser mesmo candidato parece estar afastada, pela consciência de que pelo exercício da presidência da Comissão Europeia seria de imediato identificável como a cara da austeridade, o que facilitaria a campanha dos candidatos de esquerda.

Mas os nomes são vários, desde Pedro Santana Lopes a Marcelo Rebelo de Sousa, passando pelos menos evidentes Marques Mendes ou António Bagão Félix. Este último com uma carreira feita ao arrepio da vida partidária, embora seja uma figura tutelar do CDS e oficialmente um dos “mais velhos” da política portuguesa que Paulo Portas faz questão de mostrar publicamente ter como referência.

Pouco falado também como candidato a candidato, Marques Mendes é hoje, mais do que um “barão” do PSD, um “senador” do PSD. Ministro adjunto de Cavaco Silva, foi depois responsável pelos Assuntos Parlamentares no terceiro Governo do actual Presidente. Liderou o grupo parlamentar do partido durante o consulado de Durão Barroso e quando este deixa o Governo para ir para Bruxelas é a Marques Mendes que cabe presidir ao PSD durante dois anos e aguentar as ondas de choque do deslumbre das elites e do mainstream portugueses pelo perfil reformista com que José Sócrates estreou a sua maioria absoluta.

Mais visibilidade tem tido o estado de pré-candidatura de Santana e de Marcelo. E se o nome de Santana é apresentado como alguém cuja candidatura é bem vista pelo actual primeiro-ministro e presidente do PSD, Passos Coelho, o desejo de ser candidato a Presidente já era alimentado por Santana antes mesmo de Passos ser líder do PSD. Uma espécie de sonho que tem satisfeito o seu orgulho ferido ao ser despedido compulsivamente de primeiro-ministro por Jorge Sampaio, seis meses depois de ter caído na infantilidade vaidosa de aceitar herdar a chefia do Governo sem ir às urnas.

A segurança com que se tem posicionado na rampa de lançamento das presidenciais é possível porque esta candidatura tem sido conscientemente preparada, até nas meias palavras e nos silêncios. Sobretudo depois de ter percebido a forma positiva como quer o partido quer a actual direcção do PSD receberam o seu discurso de pré-propositura no Congresso do Coliseu em Fevereiro.

Há ainda o pré-candidato Marcelo Rebelo de Sousa. Marcelo, o homem que insiste em dizer que não quer, mas que no fundo não desistiu de ser. Marcelo, o homem que, ao lado de Pinto Balsemão, foi determinante na construção do jornalismo político em Portugal e que se transformou no mediático “cromo” da TV aos domingos à noite. Marcelo, o líder do PSD que mais vitórias reais na política portuguesa deu à direita ao gizar aquela que foi a segunda e última grande revisão constitucional, depois da primeira feita em 1982 e determinada por Pinto Balsemão.

Enquanto líder do PSD, Marcelo conseguiu negociar com o seu amigo de juventude e então primeiro-ministro socialista, António Guterres. Dando em troca as abstenções do PSD no Orçamento do Estado, conseguiu impor mudanças como a introdução do, desejado desde Sá Carneiro, referendo nacional – através do qual enterrou a regionalização e adiou a legalização do aborto por mais dez anos.

Na revisão de 1997, Marcelo conseguiu realizar outra mudança de monta no sistema político desejada desde a Constituinte por Sá Carneiro e que os socialistas só em 1997 cederam: a admissibilidade constitucional de que o Parlamento poderia ter um limite mínimo de deputados de 180 deputados, abrindo assim espaço a uma revisão do sistema eleitoral que todavia a direita não voltou a tentar concretizar. Marcelo só não conseguiu sobreviver à frente do PSD o suficiente para disputar legislativas. Será que vai de novo morrer na praia?

 Esta coluna de opinião volta dia 23/08/2014

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