3 perguntas (psico)lógicas aos candidatos a governar Portugal

Como pensam reforçar o apoio à saúde psicológica dos portugueses, nomeadamente ao nível do SNS?

É quase unânime a opinião de que existe um divórcio entre eleitores e eleitos. É fortemente partilhada a ideia que os governantes entraram em descrédito pelo sistemático não cumprimento das promessas e/ou falta de clareza e objectividade nalgumas delas.

É necessário estimular o compromisso social com os governantes de modo a perceber-se, antes de uma eleição, quais as propostas concretas de ação política e que compromissos são assumidos para uma escolha mais esclarecida de todos os eleitores. Isto, além, claro está, do necessário escrutínio do seu cumprimento. Por isso pergunto:

Como pensam reforçar o apoio à saúde psicológica dos portugueses, nomeadamente ao nível da capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS)?

O Sr. Ministro, os Srs. Secretários de Estado e os parlamentares reconhecem publicamente a importância do papel dos psicólogos para o SNS. A sociedade procura e necessita dos serviços destes profissionais e deles pode beneficiar para redução do seu sofrimento. Portugal possui um número de profissionais qualificados nesta área disponíveis. Tem sido amplamente demonstrado o custo-efectividade das intervenções psicológicas, sublinhando-se a sua sustentabilidade e racionalidade em termos de gestão de recursos. Assim, a contratação destes profissionais é uma prioridade e existem recursos financeiros para a sua contratação.

É apenas uma escolha política e de gestão das unidades de saúde que tem que ser feita para uma gestão coerente com o interesse público. É verdade que fazem falta outros recursos humanos no SNS (que agora têm sido anunciados como reforço), mas também são necessários psicólogos e estes não têm sido prioridade até ao presente. Os candidatos a governar Portugal comprometem-se a torná-los prioridade? Assumem o compromisso de dotar as escolas do número de psicólogos necessários ao cumprimento dos rácios recomendados?

Os docentes afirmam a sua premência (sempre que eles existem nas escolas) de modo a poderem dedicar-se à missão para a qual estão preparados, motivados e habilitados. Os pais reivindicam o acesso aos psicólogos e aos seus serviços nas escolas. Os estudantes beneficiam (quando têm acesso) do apoio essencial às muitas situações em que um psicólogo pode ajudar. Estudos demonstram a necessidade financeira de utilizar os serviços destes profissionais, nomeadamente o custo elevado que cada uma das cerca de 150.000 reprovações anuais nos ensinos básico e secundário têm (cerca de 4.000€ por aluno só em custos diretos) em conjunto com um retorno das intervenções psicológicas neste contexto (cerca de 30/35€ por cada euro investido - estudo da prestigiada London School of Economics). E os futuros governantes, o que pensam? Vão reforçar o número de psicólogos nas escolas de modo a cumprir-se o rácio 1:1000 (psicólogo por estudantes), executando o objectivo afirmado no eixo 4 do Programa Operacional Capital Humano?

Em que medida pretendem criar condições para o cumprimento das recomendações internacionais e das melhores práticas para a efetiva avaliação e intervenção preventiva nos riscos psicossociais nas organizações?

Os trabalhadores portugueses reconhecem a importância dos fatores psicológicos e psicossociais para o bem-estar e bom funcionamento das empresas. Os empregadores, como se constatou pelo apoio da totalidade dos parceiros sociais representantes dos empregadores à campanha pela prevenção dos riscos psicossociais desenvolvida pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), também valorizam o trabalho de prevenção feito pelos psicólogos e reconhecem as mais-valias na redução de custos originados pelo stress e burnout no seio das organizações. Ou seja, as empresas portuguesas olham a prevenção nesta área como um investimento de elevado retorno e não como um custo (chega a valer 9 euros por cada euro investido).

Simultaneamente, 94% das empresas dizem que a principal razão de investirem na saúde dos seus trabalhadores é a obrigatoriedade legal. Destes factos, resulta a necessidade de ação política legislativa de modo a fazer cumprir a vontade expressa de todos os parceiros. Os psicólogos têm vindo a procurar cada vez mais formação nesta área e estão disponíveis para este trabalho. A OPP propôs já uma iniciativa legislativa neste sentido que, entre outros, formaliza a criação da figura do “Psicólogo do Trabalho”. Os candidatos a governar Portugal estão comprometidos com este interesse de todos?

Iremos continuar a fazer perguntas, pois existem muitas mais. Os psicólogos querem saber de forma clara e transparente o que defendem os futuros parlamentares e governantes e com o que se comprometem. Os portugueses também. A palavra é agora dos partidos políticos.

Director Executivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses

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