Sampaio da Nóvoa: “Eu não quero a minha cara nos outdoors

António Sampaio da Nóvoa passou duas horas a conversar sobre cultura. Ouviu alguns reparos e elogios aos seus “olhos bonitos”.

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Sampaio da Nóvoa esta segunda-feira em mais uma sessão da sua pré-campanha para as presidenciais. Nuno Ferreira Santos

O candidato sentou-se entre a actriz São José Lapa e Luís Matos Martins, director do “centro de empreendedorismo” Audax, do ISCTE. Primeiro quis ouvir. A sala cheia do Comedy Lisboa, na Avenida Duque de Loulé, em Lisboa, trazia algumas dúvidas. Algumas eram comuns com as de António Nóvoa: “Como é que se faz uma campanha de maneira diferente? É o que eu pergunto às pessoas da minha campanha todos os dias. Eu não quero a minha cara nos outdoors...”

Primeiro reparo, do “cidadão Elísio Summavielle”: “A conversa é óptima mas é preciso ganhar eleições. Vai ter de ter o outdoor.” As duas interveniente seguintes pegaram no mote do outdoor e vai de elogiar os “olhos bonitos” do candidato. Nóvoa, que se diz tímido, baixou-os, e o segundo reparo foi mais ríspido: “Tem uns olhos bonitos, mas não os baixe.”

Antes destes reparos, Nóvoa tentou apresentar três ideias. O Presidente deve aproveitar os “movimentos de renovação artística” para inspirar uma mudança profunda: “Andamos o tempo todo a ouvir os mesmos, a falar com os mesmos", criticou. Por isso, o debate público faz-se com as “ideias de sempre, um bocadinho gastas” o que deixa os portugueses “prisioneiros de um pensamento que vem de trás”. Por isso, defende, “é preciso chamar pessoas improváveis e grupos improváveis” e essa é uma das “causas” que, se for eleito, Nóvoa quer assumir. “Tem-nos faltado desesperadamente um Presidente que tenha essa dimensão.”

A segunda ideia resume-se numa frase: “Portugal tem tudo para ser um país diferente.” Para Nóvoa, o país tem todas as condições para “dar certo”, “mas estamos sempre a queixarmo-nos de estar num beco sem saída”. Pior: “Estamos a dar tiros nos pés”, garante, exemplificando com a exclusão de Portugal dos países que podiam receber bolseiros diplomados brasileiros num processo que exigiria, para o candidato, um maior esforço diplomático por parte das autoridades portuguesas.

A outra ideia que Nóvoa quis deixar foi a de que é preciso parar com o “pára-arranca” no investimento público. Defendendo “investimentos estratégicos continuados, sustentados”, criticou os “últimos quatro anos” em tudo parece ter parado. “Se eu num determinado momento da minha vida venho para a política é por não aceitar esse corte na escola, na educação, nas artes, na segurança social.”

Aí, uma apoiante resolveu dizer-lhe que preferia votar nele para primeiro-ministro. “Olhe que não, olhe que não”, repetiu Nóvoa, sorrindo, imitando Álvaro Cunhal.

E já que o candidato trouxe à baila a célebre resposta do líder histórico do PCP num debate, Elísio Summavielle lembrou-lhe que talvez tenha de fazer como Soares, na Marinha Grande, e sujeitar-se a “duas bofetadas”.

Não é de crer que a ideia tenha sido anotada pelo staff de Nóvoa. Até por vir de um ex-director-geral da Secretaria de Estado da Cultura do actual Governo, que foi também secretário de Estado da Cultura do último Governo de Sócrates, os dois que mais contribuíram para o “corte” criticado pelo candidato.

E a vontade, expressa, é a de inovar. Por isso, além da plateia de Lisboa, Nóvoa recebeu perguntas de Isabel Pereira dos Santos, uma actriz luso-descendente que vive no Quebec e de Mirna Queiroz, a directora da revista Pessoa, de São Paulo, no Brasil.

“O Presidente tem de dedicar metade do seu tempo a reconstruir um sentido para a comunidade da língua portuguesa”,  defendeu Nóvoa.

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