Um lindo tiro no pé

John Morton, o génio satírico que nos deu Twenty Twelve em 2012 excedeu-se este ano. A nova série chama-se W1A, é produzida e transmitida pela BBC e, desta vez, goza com a própria BBC. Não a BBC do passado mas a BBC actual, da última hora.

Estas auto-sátiras correm o risco de ser afectuosas. Mas W1A é intransigentemente selvático. Goza com a linguagem e com o estilo de gestão da própria BBC, não só com liberdade total mas com êxtase destrutivo.

Ataca logo o tabu: o facto da BBC ser financiada pelos espectadores, que pagam uma licença obrigatória de cerca de 175 euros. Os cegos pagam metade.

A BBC está sempre a ser atacada, mais à direita do que à esquerda. W1A é, até agora, o ataque mais violento e divertido. É impossível não olhar para aquelas cenas de pretensioso pandemónio comunicativo e não pensar que é naquelas palhaçadas que a BBC gasta o dinheiro dos contribuintes.

A BBC sai-se muito bem do W1A precisamente por não ter tido cautela nenhuma. A liberdade é uma coragem. Não falta coragem à BBC. O sentido de humor também é outro dom que não se pode ter em maior ou menor grau. Ou se tem ou não se tem. É um absoluto. A BBC tem sentido de humor.

Só a BBC seria capaz de se parodiar a si mesma com tanta pontaria e eficácia. John Morton aproveitou ao máximo a liberdade que lhe deram, a realização e os actores são excelentes mas a BBC mostrou - mostrou mesmo, no sentido mais público do verbo - que também está, igualmente, de parabéns.

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