Jornalismo permissivo, jornalismo exigente

Sendo o provedor dos leitores, não é de estranhar que este seja pomo de controvérsia. Nunca assinei qualquer condição para renunciar à minha opinião.

A propósito das minha última crónica recebi de um leitor esta seca mensagem que me leva à reflexão que vou fazer neste artigo: «Com franqueza, caro provedor. Enganou-se nas funções; comentadores já temos que cheguem!!!»

Num tempo de profunda crise social, económica e política, marcada fortemente pelo cruzamento de uma contraditória divergência na elaboração de uma escala de valores éticos, morais, culturais, civilizacionais que nos permita equilibrados pontos de entendimento, não admira que a comunicação social e as formas de jornalismo que nela se espelham sejam objecto de acesa discussão.

Pode-se discutir de muitas maneiras ou diferentes perspectivas o papel dos media no mundo contemporâneo. Não há dúvida, porém, de que foi a existência destes e, sobretudo, pelos suportes tecnológicos e condições de imediação e ubiquidade que estes, hoje, usufruem, que se veio a alterar, de forma significativa, a ordem do mundo e das configurações com que as ideologias instituídas liam essa ordem. Não foram os media que inventaram o espaço público. Este sempre existiu contornado pelos limites e instâncias de cada época civilizacional. Mas os media "esgaçaram" esse espaço, intrometendo-se, bem e mal, entre os poderes organizativos e condutores das sociedades. Alargaram de forma ilimitada e controversa esse espaço. Porventura, pelas dissonâncias que introduzem, são eles factor implicativo desta aguda desorganização do Estado e consequentemente da democracia naqueles países organizados em redor deste sistema político.

Fala-se e escreve-se muito sobre a crise, as crises, da sociedade, das sociedades. Prefere-se não falar da crise do Estado ou da desorganização que o perturba e da consequente descredibilização de que sofrem as suas principais instituições. O mundo está em guerra. Mas prefere-se fingir que não. A clássica organização da ordem estabelecida desaba nas suas estruturas básicas, mas sem vislumbrar antídotos correctos prefere-se sofismar sobre suas verdadeiras causas e soluções. Faz-se retórica barata.

No desencontro desta algazarra em que vai a discussão sobre o estado em que está o mundo, o nosso país, a nossa região, obviamente os media, a dita comunicação social e seus agentes, actores e autores, surgem como pólo de discordância entre o papel positivo ou negativo que estes cumprem para a desejada ordem do estado das coisas. Ora, sendo o provedor dos leitores, uma instância ou figura na arquitectura organizativa voluntariamente criada por alguns media, não é de estranhar que este seja pomo de controvérsia, e bem, tal como em relação aos outros agentes que constituem o sistema mediático.

Tenho presente o estatuto de provedor do leitor que me comprometi com o PÚBLICO a cumprir. Sei que me compete, sobremaneira, "atender, analisar e encaminhar as dúvidas, queixas e sugestões dos leitores", de forma a contribuir "para aumentar a confiança dos leitores no seu jornal e tornar mais transparentes os processos e decisões jornalísticos que intervêm na produção das notícias". Mas nunca assinei qualquer condição para renunciar à minha opinião. Antes, entendo que, porventura, ao "arbitrar" certas contendas de opinião ou de posicionamentos, entre leitores e jornalistas, sobretudo no que diz respeito ao rigor noticioso ou opinativo, atinente ao ofício de informar, tenho obrigação de referenciar o necessário enquadramento dos factos. Desde o início destas funções, tornei claro que não me sentia confortável, em fazer deste espaço um muro de lamentações ou um pelourinho acusatório.

Sem ignorá-las e procurar responder, prefiro aproveitar as questões levantadas pelos leitores para versar temas de fundo que dizem respeito ao cumprimento deontológico e ético do exercício do jornalismo. Não se pense que da parte dos leitores o meu correio esteja apenas repleto de acusações, louvor ou discordância com o jornal, ou especialmente com os jornalistas autores de notícias reportagens ou textos.

No actual contexto de assuntos quentes no espaço público deste país, como o novo mapa de tribunais ou a dita reforma da Justiça, o sucedido com a "paralisia" do Citius, os problemas com o início do ano escolar, os casos Tecnoforma/Centro Português para a Cooperação, do BES bom e BES mau, da PT/Oi, neste meu correio, abundam as mensagens de atiçamento para que o PÚBLICO seja mais firme, mais incisivo, não se cale e com coragem não deixe cair certos assuntos, não poupe determinadas figuras públicas e seus actos.

Não obstante todos os defeitos inerentes ao ofício, eu prefiro contribuir para que o PÚBLICO e os seus jornalistas continuem a perfilar um jornalismo exigente a um jornalismo permissivo do deixa andar não te comprometas. Na defesa dos leitores e da sua confiança no jornal.

CORREIO LEITORES/PROVEDOR

Jihadista ou jiadista

Do coordenador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, José Mário Costa, recebi e aqui dou conta do seguinte reparo e sugestão:
 
"Uma sugestão, se me permitem,  para uma 'recomendação' a quem escreve (e edita) no PÚBLICO: não tem qualquer sentido a grafia 'jihadista'… pela simples razão de que, no português, não há palavras com o "h" entre vogais.

Se a palavra entrou na língua portuguesa, então, tem de assumir a (lógica) feição portuguesa: jiadista – tal como jiade, de onde se formou, e bem, o substantivo jiadista.

Essa é a regra para todos os aportuguesamentos de estrangeirismos entrados pelo uso na nossa língua. Desde os galicismos de outros tempos (bibelot/bibelô, bicyclette/bicicleta, dossier/dossiê) até aos anglicismos mais ou menos recentes (football/futebol, dandy/dandi, whisky/uísque, coppy-desk/cpoidesque), etc., etc., etc.

No Ciberdúvidas, o reparo já foi feito (http://ciberduvidas.pt/aberturas.php?id=1961), mas como caiu em saco roto… 

O desleixo é verdade que anda generalizado nos media portugueses –  sempre pouco sensíveis a estas coisas da língua…. que não seja o ruído à volta do Acordo Ortográfico… –, mas, que diabo!, até no PÚBLICO se aceitam já estas anomalias linguísticas!?..".

Livro de Reclamações
 
Um leitor apresenta a seguinte reclamação:

"Na falta de um local onde fazer a reclamação… o que estranho pois supunha que qualquer instituição é obrigada a ter Livro de Reclamações… fica o meu protesto e decisão.

Desde há mais de cinco anos que pus como página de abertura do meu browser o PÚBLICO online, pela honestidade de informação, pela qualidade.

É com pesar que vou desistir. Actualmente (…) os scripts de publicidade são tão pesados que me fazem ir abaixo o sistema. (…) Mas se é essa a política de publicidade agressiva, tipo TENS DE VER, desisto. Lamento.»

Comentário do provedor: O Livro de Reclamações existe nos serviços. Todavia, aqui, a sua reclamação recebe até um certo carácter público. A verdade porém, meu caro leitor, é que sem publicidade os jornais não têm subsistência. Tanto na edição de papel, como na edição digital. É caso para dizer que é o preço a pagar também pelos leitores que querem a continuidade dos jornais. 

A Pessoa o que é de Pessoa

Um leitor manifesta assim uma desilusão: "O PÚBLICO, na sua edição de 3.10.14, publica na secção Escrito na Pedra a seguinte frase: 'Alague o seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas». Já era suficiente mau ter publicado uma frase tão xaroposa, mas grave, grave, é atribui-la a… Fernando Pessoa. (…) Se o PÚBLICO utiliza o Citador para escolher frases, então o melhor é mudar o título da secção para Escrito na NET".

Comentário do provedor: Dei conta da sua desilusão à Direcção.

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