E agora?

As eleições europeias deixaram claras três coisas. A primeira, que os cidadãos desejaram punir a governação atual e a sua estratégia acrítica perante as políticas europeias. A segunda, que os mesmos cidadãos não conseguiram endossar ainda uma alternativa clara que permita substituir a atual governação por uma alternativa plausível de progresso, justiça social e democracia europeia. A terceira, que há um notório cansaço com uma política feita nas cúpulas partidárias, distante dos cidadãos.

Qual deverá ser a responsabilidade de partidos e cidadãos perante estas evidências? Sem prejuízo das dinâmicas internas aos partidos, parece evidente que só encontraremos resposta para os dilemas expostos acima numa nova dinâmica de abertura e construção de programa alternativo que vá para lá dos bloqueios — nomeadamente à esquerda — e das fronteiras políticas tradicionais.

Alguns elementos essenciais que poderão fazer parte dessa nova dinâmica:

1. Um arco constitucional. A noção básica de que o país só terá futuro legitimado e compartilhado pela vontade dos cidadãos cumprindo e não desafiando a Constituição. Deverão ser dadas garantias aos cidadãos de que uma nova governação se fará no reencontro com a Constituição, não só como repositório de direitos, mas sobretudo como desiderato de liberdade, justiça e solidariedade interna para o país.

2. Um processo de construção de programa que seja aberto, inclusivo, e participado, e no decurso do qual se constituirá uma base social de apoio que vá para lá dos aparelhos partidários. Assim poderemos alcançar muita gente que nos últimos anos se tem esforçado por ajudar a pensar o pais e encontrar para ele alternativas realistas, plausíveis e de futuro. 

3. Uma política europeia exigente, construtiva, e visionária. Seja na recusa à lógica do Tratado Orçamental, na linha da frente pela coesão em todos os fundos estruturais europeias (incluindo aqueles em que Portugal é contribuinte líquido, como na ciência) ou na luta por uma verdadeira democracia europeia e União dos direitos fundamentais. Portugal só terá a ganhar com um discurso político que saiba pensar a Europa e marcar a agenda europeia.

4. Um modelo de desenvolvimento para o país, a médio e longo prazo, com metas claras para a qualificação, as áreas de especialização da economia, e as provisões de serviços públicos. Quando os cidadãos conhecem um plano para o futuro do país, regressam — e não emigram. Sabem porque pagam impostos, porque quotizam para a Segurança Social, porque votam nos seus representantes, como podem ajudar a combater a corrupção e estancar a evasão fiscal.

5. O trabalho aturado nestes elementos permitirá também encontrar a configuração de forças políticas e sociais — e as lideranças — que interpretarão um caminho deste género.

Nada disto é fácil, mas quanto mais tarde começarmos menos hipótese teremos de dar resposta a um país que está sequioso de alternativa. Um compromisso de progresso pelo país e pela Europa será um passo decisivo para constituir a frente progressista — social e política — que o levará a cabo.

 

Sugerir correcção
Comentar