Dois olhares, dois alemães e uma questão urgente

A pobreza, a poligamia, as migrações, o divórcio, os direitos da instituição familiar serão os temas principais do Sínodo Extraordinário dos Bispos Católicos que vai ter lugar nos próximos dias. Mas, sobretudo para nós Europeus, a questão mais importante é a que se refere ao tratamento das pessoas que casaram na Igreja, se divorciaram e vivem num novo casamento civil. Podem ou não essas pessoas ser admitidas à reconciliação, à comunhão e à validação do seu novo estado?

Este ponto controverso é tratado segundo duas perspectivas dificilmente conciliáveis. Um grupo olha a matéria pelo lado da lei moral que prescreve a indissolubilidade do matrimónio e nega qualquer possibilidade de admissão dessas pessoas à comunhão. Outro grupo vê o assunto pelo lado de quem sofre a situação e pensa que é devida, por justiça, uma solução. Para uns, a fidelidade a Deus passa pelo respeito integral da norma. Para outros, parece preferível ver Deus pelo lado da solicitude, da compaixão com quem fracassou. Os primeiros vêm a perfeição num passado irrevogável. Os segundos preferem ver a imperfeição humana da vida presente, em caminho esforçado para a plenitude futura. O Cardeal Kasper advoga este segundo ponto de vista. O Cardeal Müller encabeça os defensores da primeira hipótese.

Esta reunião não tem na agenda uma eventual inovação normativa. Essa é esperada mais para diante. O ambiente de descompressão da moral devido à eleição do Papa Francisco augura essa desejada inovação. Repare-se que não está em causa uma diminuição da exigência da moral de Jesus, mas a concentração da Igreja numa praxis terapêutica que leve todos os falíveis matrimónios existentes a serem indissolúveis, por graça e não só pela força da lei.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários