Cartas à Directora

A crise da democracia

Começa a ser difícil a Vida para quem defende, com convicção, o Sistema Democrático Parlamentar que, desde a II Guerra Mundial tem vigorado na maioria dos países ocidentais e que, depois do desmoronar do Bloco Comunista, se alargou aos países antes satélites de Moscovo.

Particularmente depois da desregulamentação dos mercados financeiros levada a cabo pela dupla Reagan/Thatcher, e do crescimento da especulação financeira acompanhado da “desmaterialização da Economia”, assistimos cada vez mais à relativização dos Princípios da Ética e da Moral, à exibição sem pudor nem escrúpulos da ganância materialista sem freio, à utilização do Poder Político para o enriquecimento pessoal e de grupo, subordinado a interesses e poderes não legitimados pelo Povo. É angustiante até assistirmos impotentes à enorme e quase total impunidade de quem depaupera o Erário Público e penaliza os contribuintes, eternos sacrificados por conta de pecados e crimes alheios.

Nestes tempos eleitorais que vivemos, sucedem-se as autênticas sessões de vendedores de “banha de cobra”, ao som de fanfarras e entre coloridas bandeirinhas, distribuindo promessas para todos os gostos, logo esquecidas na noite eleitoral depois de aberto o Champagne para comemorar a Vitória. Outros semeiam quimeras que sabem impossíveis porque nunca serão chamados a cumpri-las! Nem querem!

E contudo, apesar desta “apagada e vil tristeza”, continuo a pensar que Winston Churchill estava carregado de razão quando afirmou “a Democracia é o pior dos regimes, com excepção de todos os outros”.

Sim, porque nas democracias representativas, é o Povo que elege os seus representantes! Pode escolher mal, mas é ele que escolhe. Não um grupo de autoconvencidos iluminados que se julga no Direito de escolher o que é melhor para o Povo!

Hitler e Stalin, no século passado, mostraram-nos bem quanto custam as utopias do Homem Novo!
Os povos que ambos invadiram e subjugaram a seu belo prazer, infelizmente também!

Helder Pancadas, Sobreda

 A abstenção vai crescer

Nas Eleições Legislativas os eleitores deviam votar em candidatos a Deputados que defendam os seus interesses na Assembleia da República controlando as decisões do Governo. Isto é teoria, infelizmente não é assim. O Secretario Geral de cada partido não só escolhe o candidato a Presidente da República da sua preferência, escolhe os candidatos às Câmaras Municipais, mas nomeia os deputados a seu gosto para representar o partido sem qualquer consulta partidária, nem tendo em conta a ligação do deputado à terra que representa. Quer dizer no arco da governação, além de se propor para futuro 1º Ministro, procura dispor de uma massa amorfa de deputados dispostos por compromisso e juramento, a repetir até à exaustão o que o chefe decidir ou o seu líder Parlamentar. Isto por um lado é excesso de poderes para os Secretários Gerais, por outro coloca os Deputados do Parlamento numa  situação de inferioridade, que somos obrigados a imaginar o tipo de gente que aceita um tal papel e a motivação que daí pode resultar. A falta de assiduidade ao parlamento está assim explicada. Nestas condições pergunta-se, para quê ir votar nas eleções legislativas? Não se vota num deputado, mas num Secretário Geral que significa num 1.º Ministro, ou num pequeno ditador. Não admira que o partido da Abstenção passe a ser maioritário.

Raul Fernandes, Porches

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