Cartas à directora

Pesadelo

Sonhei que um Chefe do Governo, instado a pronunciar-se sobre um eminente cidadão, o maior responsável pela evolução da Ciência nesse país, altamente considerado dentro e fora de portas, mas, “hélas”, de outra cor política, achou por bem começar com um “apesar…”;

Sonhei que esse mesmo chefe, referindo-se ao valor que a mais importante empresa desse país, tanto económica como tecnologicamente, teria no quadro da sua privatização, não encontrou melhor do que “…ela vale o que derem por ela…”;

Sonhei ainda que um grupo de eminentes magistrados, singelamente auto denominados “VIP”, trocavam entre si, através desse meio por vezes pantanoso denominado Facebook, mensagens e comentários escabrosos sobre a prisão preventiva de um ex-primeiro ministro;

Mais sonhei que os mais altos responsáveis de bancos, empresas de telecomunicações e outras, desse mesmo país, quando chamados a responder pelas suas actuações e responsabilidades no descalabro a que algumas chegaram, entravam todos em “deficit” de memória;

Sonhei ainda que uma jovem jornalista, licenciada, certamente, comentando em directo um trágico acidente de aviação, perante a incerteza ainda das causas e números concretos de vítimas, opta pela expressão “…nesta altura do campeonato…”;

Sonhei também que, naquilo que seriam os festejos de uma vitória desportiva, nesse país, os adeptos do clube vencedor, além de tomarem conta do espaço público, “festejaram” agredindo-se uns aos outros;

Continuei a sonhar, desta vez sobre educadores que, num livro de exercícios de matemática, para efeitos de cálculo de aceleração de um corpo ao cair, optaram por enunciar “…o João atirou um gato da varanda…”.

E muito mais sonhei, até que, repentinamente, acordei; ainda angustiado, fui progressivamente acalmando. Afinal, esse sonho, ou melhor, pesadelo, digno de um argumento de filme série B, era isso mesmo: um sonho. Sim, porque felizmente, nada disto se passa no meu País, que se sabe ser de brandos costumes. Ou…

José Alberto de Almeida e Brito, Carreiras

P

rotagonismo desnecessário

Recentemente Passos Coelho fez um elogio ao desempenho da ministra das Finanças. Foi o suficiente para alguma vozes considerarem que estava encontrada a futura leader do PSD. Acontece que, após estes factos, a ministra passou a exibir um protagonismo e postura que, para os mais atentos, não lhe eram habituais. A prova mais evidente do que afirmo baseia-se na tomada de posição no que ao corte de pensões diz respeito. Contrariando o primeiro-ministro — que, um dia antes, garantira não se justificar tal medida bem como o próprio ministro da Segurança Social, a reforçar a posição do chefe do governo, a ministra das Finanças “seguiu em frente”, insistiu na ideia e na necessidade de tal medida. Naturalmente veio criar um clima de ansiedade e preocupação especialmente junto daqueles milhares de pensionistas (a maior parte já com pensões miseráveis), que na reiterada atitude e profecia da ministra, receiam voltar a ver extorquir ainda mais do pouco que recebem.

Além do protagonismo, desnecessário e de flagrante mediocridade, Maria Luís Albuquerque goza do benefício de uma triste realidade que muitas vezes tem sido evidenciada: o governo continua a não ter uma voz (uma só) que informe e esclareça os portugueses quando as circunstâncias o justificarem e esta é disso prova evidente. As “trapalhadas”, eu digo, as “muitas trapalhadas” em que o governo se tem metido, nesta área, só prova a falta de uma linha condutora, de uma só voz, credível, que informe os portugueses. (...)

Carlos Morais, Lisboa

Sugerir correcção
Comentar