Cartas à Directora

Liberdade sim, mas...

Por mais que queira — e não quero! —, não consigo dissociar a Liberdade, um dos valores máximos do Homem, enquanto ser social, de um outro não menos importante, a Igualdade.

Uma sem a outra não completam a grandeza do ser humano. Cada uma delas é fundamental para que o Homem tenha a dignidade que alcançou ao destacar-se dos restantes animais, mas uma só não basta, são necessárias as duas.

A muitos convirá celebrar apenas uma delas e, nas sociedades que chamamos democráticas, dá-se, invariavelmente, a primazia à Liberdade. Mas esta posição pode ser enganosa, pode encobrir interesses obscuros de quem pretende usar a Liberdade apenas em proveito próprio. Os arautos da desigualdade não prescindem da Liberdade, sem ela não conseguiriam os seus intentos.

De que serve a alguém ser livre se não dispõe da Igualdade de oportunidades e de direitos que lhe permitam aceder ao mundo e aos seus recursos da mesma forma que outros? Por que razão uns têm tudo, incluindo a liberdade de se irem apropriando de cada vez mais direitos de saque sobre o mundo, e outros nada têm, nem sequer o mínimo de subsistência?

Para dizer o que sinto, preciso da Liberdade. Mas também preciso de experimentar a Igualdade, para poder sentir que há Justiça no mundo. E quanto eu gostaria de olhar e ver a sociedade partilhar-se, com Fraternidade.

Então sim, festejaria sem reservas esta Liberdade que Abril nos trouxe. Sem as legítimas frustrações dos muitos que se perguntam até onde nos trouxe o 25 de Abril.

José A. Rodrigues, V.N.Gaia

Os libertadores da hipocrisia

O afogamento de 700 imigrantes num único naufrágio ao largo de Lampedusa veio levantar um coro de vozes condenatórias em relação à falta de meios de salvamento e às politicas restritivas da União Europeia  contra os milhares de refugiados que chegam do Norte de África. "É preciso prevenir esta tragédia", reafirmam, convictos e solidários, Hollande, Renzi e Cameron.

Esta nuvem de declarações piedosas, contudo, omite a evidente ligação entre a  crescente onda de refugiados e as brutais agressões que países europeus como a França, Itália, Inglaterra, desencadearam contra Estados laicos como a Líbia e a Síria, levando-lhes a "democracia" e a "libertação" nas asas dos seus bombardeiros, criando espaço aos fundamentalistas do Estado Islâmico.

Calculo que se nos tivessem "libertado" da ditadura salazarista bombardeando Lisboa e  outras cidades com Espanha a ajudar à festa, também haveria portugueses a embarcar às molhadas com milhares a morrerem no mar .

No fundo, a  lógica é simples: sempre que  os "libertadores" lançam bombas, a população foge.

Foge dessa "libertação" que instala o caos e acirra  rivalidades e da "ajuda" arrasadora dos europeus e aliados, alguns tão democráticos como a Arábia Saudita, onde por lei se cortam cabeças e mãos e se chicoteiam infiéis.

O que se esconde nessa narrativa do "Ocidente" é que a vida era melhor na Líbia e na Síria antes da sua "libertação" pelos Hollande ditos socialistas que ninguém distingue da pior falcoaria dos EUA. E se alguém tem dúvidas, pergunte aos náufragos.

Jorge Seabra, Coimbra

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