Cartas à directora 24/09

Desleixos

A ex-ministra da Educação (do PS) recordista das manifestações de professores foi condenada a três anos e meio de prisão (com pena suspensa) por ter ilegalmente favorecido uma pessoa com quem fez um chorudo contrato, que por acaso é irmão de Paulo Pedroso, então dirigente nacional do PS. Pois o nosso grande comentador prof. Marcelo apenas diz que “era uma prática habitual na administração pública na altura”, que “agora se passou de oito para 80” e isso é sinal de que há uma maior atenção da opinião pública a estes factos, balbuciando, na passada, que a condenação foi em primeira instância, com direito a recurso, e que a ministra “nem conhecia nem conhece o beneficiado” – omitindo (e logo o professor, sempre tão bem informado) que afinal era o companheiro de trabalho do marido da ministra…
Quanto à acusação feita a Passos Coelho de ter recebido, durante três anos, 5000 euros mensais da Tecnoforma (para angariar clientes), enquanto era deputado, violando o estatuto de exclusividade e não declarando esses valores ao fisco (facto que, curiosamente, o próprio nunca conseguiu negar), o prof. Marcelo apenas refere que os crimes já prescreveram (um alívio…), que tem “a certeza que Passos Coelho não fez com intenção…” e que, a ter recebido os cerca de 150.000 euros que não devia, “foi apenas um desleixo”!...
Ora aí está um “desleixo” que valeu a pena, mostrando as potencialidades do empreendorismo privado nesse tempo que, compreensivelmente, o nosso "primeiro" apelida de “vacas gordas”. Uma “pipa de massa” (mais do que ganhava como deputado) de que, de resto, já nem se lembra... Muito diferente do inato e luso desleixo que temos de pagar a doer por termos vivido acima das nossas possibilidades, abusando de um demasiado benévolo IRS!
Tenho para mim que o prof. Marcelo está também a ficar desleixado, tanto mais que, como diz, a opinião pública, inversamente, está mais atenta a estas estórias de embalar…
Jorge F. Seabra, Coimbra

Não respondo a polémicas
 
O senhor vice-primeiro-ministro não responde a polémicas quando está fora do país.
É pena estar quase sempre fora do país: responder a uma boa polémica de quando em vez estimula o hipotálamo e previne o Alzheimer. Ele que não se acautele em novo e ficará em velho como o outro senhor, que ainda ontem, na recepção de um troféu qualquer, teve os seus momentos de ausência, olhos postos na paisagem e a enrolar os sucos salivares sem emissão de som audível.
É que mesmo nas raras vezes em que está dentro do país, o "vice" não responde: mal tem tempo para um beijo à mãe e mudar de camisa, logo a correr para o avião para mais uma missão que dá pelo nome técnico de “diplomacia económica”, que não seria obscena se fosse patriótica, e é (patriótica e não obscena) dada a cosmovisão do "vice".
Eu daria outro nome a essa fuga, mas arrisco-me a lançar uma polémica, e a isso o nosso segundo-primeiro não responde nunca.
Essas viagens gratuitas estão quase a terminar, não por desfechos próximos que se possa pensar, mas porque já só lhe faltam duas ou três ilhas-Estado na Micronésia, e depois disso, não resta país para se vender produto.
É uma vida esgotante, a de caixeiro viajante.
Luís Pires, Lisboa

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