Cartas à directora 23/09

A prescrição?

Fui dos que nunca se satisfizeram com a destruição das escutas a José Sócrates. Se como a PGR e STJ da altura disseram que nada tinham de especial, ainda menos se percebeu a pressa de as destruir. Agora, relativamente a um alegado crime fiscal de Passos Coelho (P.C.), caso seja eventualmente verdade que omitiu declarações às autoridades a que estava obrigado (AR, AT e TC), estaríamos perante um facto muito grave. E não importa absolutamente nada que os eventuais crimes tenham prescrito. Se P.C. entende, no caso de ter prevaricado, que a prescrição absolve o seu crime, está completamente enganado e de política percebe nada. Para além de ter de parecer sério, e ser também, P.C. ficaria ferido de morte na sua credibilidade enquanto líder político e primeiro-ministro. Como é que os cidadãos poderiam em consciência cumprir as suas obrigações fiscais se o chefe do executivo do país o não fez? Que exemplos são estes? Caso seja verdade, é de uma absoluta falta de vergonha que não se tenha demitido já. Aliás, nunca deveria ter aceite ser primeiro-ministro, sabendo desse capitis deminutio que o marca indelevelmente para o resto da sua vida política. É como um ferrete que o perseguirá sempre, onde quer que fale ou apareça. Um vulgar cidadão poderá pagar a sua pena e as suas coimas perante um crime desses, e seguir com a sua vida. Um político fica condenado para sempre, na sua credibilidade e autoridade moral perante os seus concidadãos. Já tivemos dois políticos da área do PS que se demitiram imediatamente, após terem sido conhecidos os seus alegados crimes fiscais. Um deles, aliás, até provou ter razão e ser inocente. É urgente que o primeiro-ministro se pronuncie claramente sobre esses factos muito graves, e não nos venha "dar música" com a habitual conversa de colaborar com a Justiça, e dizer que não se lembra de factos que ocorreram há apenas uma dúzia de anos e envolveram muitos milhares de euros. Seremos todos parvos? 
Manuel Martins, Alandroal

Barrigas de aluguer

Marinho e Pinto usou o MPT como “barriga de aluguer” para se candidatar ao Parlamento Europeu e com bastante sucesso. Depois do lugar ser parido, zangou-se com a mãe biológica do mesmo e quer voar pelas suas próprias asas. Parece bastante evidente que vão todos acabar mal. Esta coisa dos partidos em nome individual – eu quero intervir politicamente, logo crio um partido – é algo básico, um pouco terceiro-mundista e, sobretudo, de futuro muito incerto. Nem Eanes conseguiu aguentar o fantástico sucesso do PRD em 1985 e Marinho e Pinto não se compara para melhor ao então Presidente.

É um facto que actualmente não existem muitas alternativas políticas claras e diferenciados, mesmo por esse mundo fora. É sintomático que vários movimentos de contestação recentes fiquem simplesmente identificados pela data em que ocorreram, mas hoje e sempre um projecto político para sobreviver precisa de mais do que um nome ou uma data.

Sobre o pecado original de Marinho e Pinto não me parece assim tão inédito. A particularidade e o incómodo foi ser uma barriga de aluguer exótica. No entanto, de entre todos os deputados e políticos activos, quantos não terão escolhido o seu partido actual apenas pela razão de que com esse “chegavam lá”? Quantos, e até notáveis, já mudaram de cor ao sentirem que melhorariam a probabilidade de sucesso? Quantos estarão dispostos a sair, caso a direcção do partido tome um rumo contrário às suas convicções? Já agora, quantos terão convicções?
Carlos J. F. Sampaio, Esposende

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