Cartas à directora

O ano lectivo começou há cinco semanas?

Anteontem, iniciou-se a sexta semana de aulas do ano lectivo 2014/2015. O primeiro período é composto por 13 semanas e, ainda hoje, praticamente a meio dele, há cerca de 2000 professores por colocar e vários milhares de alunos sem todas as aulas constantes dos respectivos horários. E assim, lentamente, se inicia o processo de afastar da escola muitos alunos. Os professores sofrem, os alunos sofrem, os pais sofrem, o país inteiro sofre e assiste como que anestesiado a tudo isto. Se os governantes se preocupassem efectivamente com os seus habitantes, outras conclusões teriam já sido tiradas para que, no futuro, nenhum ministro da Educação tivesse o atrevimento de fazer uma asneira tão grande, mas tão previsível, como esta. Nuno Crato continua a não assumir na plenitude as responsabilidades que lhe cabem e Passos Coelho, um primeiro-ministro distante da realidade e com medo não se sabe de quê, continua a ignorar o que se passa no dia-a-dia da escola pública portuguesa. Será que tudo não passa de algo calculado com pormenor e com uma determinada finalidade? Custa-me a acreditar que assim seja, mas a forma como foi elaborado todo o concurso, não só deixa muito a desejar como não é nada abonatória da capacidade intelectual dos seus autores.
Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

Cidadania… de quatro em quatro anos

Não deixa de ser curioso ouvir alguns dos mais ilustres comentadores políticos, e mesmo políticos, referirem, a propósito da forma como os cidadãos podem e devem exercer o seu direito de cidadania – quando os mesmos já não se revêem na política exercida por quem foi democraticamente eleito, nem tão-pouco reconhecem qualquer legitimidade política por parte de quem os governa –, que existe uma forma infalível de avaliar esses políticos: nas próximas eleições. Sim, segundo estes ilustres “representantes” da nação, os cidadãos devem resignar-se e exercer o seu direito de cidadania apenas nas eleições, ou seja, de quatro em quatro anos!
Até lá, devem assistir de forma ordeira e acabrunhada aos sucessivos ataques ao designado Estado de Direito democrático; devem assistir à desestruturação do Estado social, da escola pública, do Serviço Nacional de Saúde; devem considerar a Justiça como uma utopia; devem aceitar a tirania da especulação financeira, delicadamente apelidada de “os mercados”; devem emocionar-se e congratular-se com a desfaçatez dos que prometem e não cumprem e, esperar… desesperadamente pelas próximas eleições.
Entretanto, os responsáveis políticos pedem desculpa, dão o dito pelo não dito, dizem assumir as suas responsabilidades políticas e, contraditoriamente, afirmam que não fogem às suas responsabilidades, ou seja, não se demitem! Não se demitem porque, assustadoramente, a sociedade portuguesa tem pouca intervenção cívica e é muito pouco exigente. Em qualquer país com uma cultura verdadeiramente democrática, os cidadãos exigiriam irrevogavelmente a suas demissões – não esperariam até às próximas eleições. Num país verdadeiramente democrático, os cidadãos seriam tratados com respeito; os políticos tratariam da Res publica com ética e sentido de responsabilidade e… a Justiça funcionaria.
Acorda, Portugal!
Júlia Landolt, Porto

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