Cartas à Directora 21/11

Nonsense

O Ministério da Saúde pediu aos enfermeiros que cancelassem a greve marcada para os dias 14 e 21 de novembro, alegando a “necessidade de recursos humanos, nomeadamente enfermeiros”, face ao surto de Legionella que tem sobrecarregado os hospitais da Grande Lisboa. Manifestou, porventura, o Ministério da Saúde até hoje preocupação com as inúmeras reivindicações desta classe profissional? Reivindicações que se prendem, sobretudo, com as duras condições de trabalho decorrentes de um grande défice de recursos humanos neste setor?...
Apelou-se ao bom senso da classe: "Nesta situação de desafio excecional, torna-se ainda mais importante que todos os agentes do setor demonstrem o grau de profissionalismo e responsabilidade que tem sido a chave do sucesso na resposta aos desafios do momento."
Preocupou-se o Ministério da Saúde, até ao momento, com o profissionalismo e responsabilidade dos enfermeiros, quando os tem sujeitado a trabalhar de forma desumanamente exigível?... Preocupou-se este ministério com o enorme cansaço que inflige a estes profissionais, do qual podem advir riscos para os próprios e, consequentemente, uma diminuição da qualidade dos serviços prestados aos doentes?...
Portugal tem profissionais excecionais em diversas áreas, que não necessitam que se lhes apele ao bom senso. O Serviço Nacional de Saúde, duramente penalizado durante estes últimos anos, ainda sobrevive devido ao inexcedível profissionalismo de todos os que nele trabalham, apesar da enorme falta de recursos (humanos e materiais) de que dispõe.
Quanto à “perceção social sobre a greve”, assistiu-se a mais um lamentável episódio de tentativa de manipulação da opinião pública contra uma classe profissional. Classe que sempre deu provas de uma inquestionável dedicação à causa pública. Os portugueses sabem com quem podem contar… e têm perfeita consciência de que estes profissionais, assim como todos os outros que trabalham nesta área tão delicada e fundamental como é a da saúde, nunca colocariam as suas legítimas reivindicações profissionais acima dos interesses dos seus doentes, sobretudo se a situação se revestisse de um caráter de emergência nacional que implicasse – pela insuficiência de cuidados prestados risco de vida para os cidadãos.
Júlia Landolt, Porto

Conservatório de Música de Lisboa
Assisti no Jornal da TVI  de 19/11 a uma reportagem sobre o Conservatório de Música de Lisboa. Numa sala imunda e tão frágil que me trouxe à ideia os acampamentos romani nos viadutos da cidade, preenchida por baldes de plástico para conter as águas que caíam abundantemente do tecto, dois alunos de saxofone tentavam aprender a serem bons músicos. A professora encostada à porta defendia-se da intempérie, enquanto tentava ser boa professora.
Senti uma grande revolta, um furacão imenso de raiva e vergonha.
O que andará a fazer o secretário da Cultura, Barreto Xavier, que em tempos tanto gostava do Bairro Alto?
Luís Robalo, Lisboa

Século XVIII, não XIX

O [meu] artigo publicado o PÚBLICO no dia 19/11/2014 (p. 46), intitulado O Reino da Estupidez, inicia-se do seguinte modo: “No final do século XIX correu um poema anónimo intitulado O Reino da Estupidez.”
Trata-se de um erro evidente, facilmente detectável, tendo em conta as referências seguintes à Reforma Pombalina da Universidade (1772) e ao reinado de D. Maria I, que se iniciou depois do reinado de D. José I, em 1777. Deve corrigir-se para: “No final do século XVIII correu um poema anónimo intitulado O Reino da Estupidez.”
Na verdade, o poema, que suscita algumas dúvidas, deve datar da década de 80 do século XVIII, sendo normalmente atribuído ao estudante de Medicina, natural do Brasil, Francisco de Mello Franco.
Luís Reis Torgal

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