Cartas à Directora

A (des)igualdade

A gente lê livros, artigos e cartas e a ideologia está por todo o lado. Curiosamente ela mesma (quem a escreve), nos textos, logo diz de si própria que "não existe" e (à direita isso então é notório) quase todos só a apodam de... "realidade". Conveniências, direi eu...

E nesse grande debate "convenientemente eufemístico" há palavras chave, de que escolho para hoje a(s) "igualdade/desigualdade", talvez por ser aí que, no fundo se joga o combate ético que define o pensamento de igual teor. Exemplos? Aí vão alguns. Harry G. Frankfurt ("Sobre a Desigualdade", Prof. Univ. Princeton, Ed. Gradiva, Junho 2016) defende estrenuamente a separação conceptual daquela com a "pobreza; pelo contrário, Rui Pena Pires ("O impacto das políticas na desigualdade", Prof. ISCTE, PÚBLICO de 27/9) mostra, à sua maneira, como no sistema capitalista vigente, os pobres ficam sempre mais pobres (e desiguais...), com austeridade ou com crescimento; Carlos F. Sampaio ("PS, onde estás tu PS?", PÚBLICO de 29/9), sem falar em desigualdades, elogia o enriquecimento (pressuponho que todo) e sem uma palavra sobre como há Estado sem ser totalitário que não o permite "à outrance" e portanto... não deixa cavar desigualdades abissais; finalmente Francisco Assis ("A evidente e profunda assimetria entre a relação PS-BE e a PS-PCP", PÚBLICO de 29/9) assumindo (?!) que capitalismo é sinónimo de economia de mercado ( e esquecendo, que PS é o acrónimo de Partido Socialista...), orgulha-se do seu partido "enriquecer" a noção de igualdade ( não de desigualdade...), o que me parece incompatível com o que "a tal economia" tem feito e o agora tão citado estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos mostra.

Termino este texto parafraseando uma personagem de A. Laborinho Lúcio ( "O Homem que Escrevia Azulejos", págs. 68/69, Ed. Quetzal, Setembro 2016) que considera a liberdade como o absoluto, a fraternidade o rosto ético daquela mas... a igualdade como mais próxima da ordem e daí... ser já "matéria do poder". Triste e "ideologicamente", concordo.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

A exceção OPEP

Se um conjunto de produtores de um dado setor de atividade se reunir secretamente para acordar quotas de produção, distribuições de mercado e tentar manipular ou condicionar preços está sujeito a pesadíssimas penalidades, que várias entidades reguladoras da concorrência não hesitam em aplicar.

A OPEP reuniu-se esta semana e decidiu reduzir a produção, para procurar fazer subir o preço do petróleo. Veremos o que dá na prática, dado que a confiança mútua não é particularmente elevada entre os seus membros.

Custa-me a entender como esta cartelização de mercado funciona assim, publica e impunemente. É certo que se eles se zangarem e boicotarem fornecimentos, lá teremos que cozinhar a lenha, jantar à luz da vela e deslocarmo-nos de burro ou bicicleta… ou não.

Acredito que não seja possível, na prática, tratar o petróleo como uma indústria qualquer, até por questões geoestratégicas sensíveis associadas, mas gostava de saber o que as autoridades de regulação da concorrência pensam sobre isto, quanto ao princípio.

Carlos J F Sampaio, Esposende

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