Cartas à Directora

A primeira vez

Como em tudo na vida, há sempre uma primeira vez. Temos, pela primeira vez, um Governo dum Partido, que não resultou da maioria de votos dos eleitores, nem duma coligação partidária, nem da iniciativa do Presidente da República; foi tão-somente resultante de uma aritmética parlamentar. Quando se esperaria que A. Costa apresentasse a sua demissão, pela derrota eleitoral sofrida, após ter apeado o anterior Secretário do PS por este ter ganho poucochinho, ei-lo investido de PM.

A legitimidade deste Governo poderá estar correta segundo as leis vigentes, mas quando os Partidos apoiantes se esgatanhavam durante as campanhas, e, agora apoiam no Parlamento, um Governo sem que nele colocassem um único elemento partidário, transmite aos eleitores uma desconfiança abusiva da utilização dos seus votos. Pessoalmente, desejo esta nova governação, mas, aqui sim, seria uma vitória da esquerda, se incluísse na composição governamental, militantes dos partidos apoiantes na AR.

Duarte Dias da Silva, Lisboa

 

Suicídio nas forças policiais

Morrem mais agentes das forças policiais por suicídio, do que, por acções preventivas e de combate à criminalidade. Espero que o governo liderado por António Costa tome medidas para estancar este desistir da vida de agentes da PSP e GNR.O afastamento da família, o stress inerente à função, os cortes salariais e condições de habitabilidade não podem deixar o poder instalado indiferente. A fadiga por horas trabalhadas a mais não pode continuar! O suicídio é assunto tabu na sociedade portuguesa. Coragem ou cobardia, em pôr termo à vida eis a questão! Contudo, a questão das chefias é muito importante. Sabemos como a incompetência grassa nas elites e chefias intermédias de todos os sectores de actividade laboral na pátria das quinas. Espero que Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna, “administre “ com carinho os estados emocionais dos valorosos agentes da GNR e PSP que dão a vida pelos seus concidadãos!

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

 

Acerca da Biblioteca de Belém

O sol encharca a biblioteca de Belém. As gotas de amarelo escorrem pelos livros que estão perto das janelas. O plástico que protege as enciclopédias de se desfazerem em pó tem um brilho estridente. As paredes são brancas e a pele das portas sai às camadas revelando a sua carne de castanheiro centenário. Os livros escondidos pelas paredes e portas infelizes que não tiveram a sorte de nascerem viradas para o sol são também banhados pelo calor da luz estival, apesar de agora fazer Inverno. A biblioteca de belém está submersa, inundada desde o nascer do sol, drenada a sua água no poente. Todos os dias se afoga e todos os dias ressuscita. E todos os livros que morrem são tocados pelo amarelo. Uns mais que outros. A morte desta biblioteca é a vida de quem entra no seu corpo e o seu ressuscitar é uma expulsão violenta dos invasores. Engolir esta água indolor que me mata, dá-me vida. E sem acreditar em significados nem em coisas, nem em nada, acredito que a luz da Biblioteca de Belém é uma inutilidade deliciosa. 

Diogo Soares, Lisboa

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