Cartas a Directora

25 de Novembro, sempre!

Para um verdadeiro democrata em Portugal, as datas de 25 de Abril (25A) e de 25 de Novembro (25N) serão sempre inseparáveis. Na primeira, comemoramos a democracia, que se seguiu a um longo período de regime autoritário. Na segunda, comemoramos o esforço heróico de alguns valorosos militares do 25A, que não se ajoelharam perante a tentativa militar e civil golpista, que visaria a reintrodução de um novo regime autoritário, mas desta vez de alegada "esquerda". Um desses militares, tenente-coronel Melo Antunes, conseguiu à última hora, que o PCP de Cunhal não viesse apoiar na rua os golpistas, como todos previam acontecer. São por isso datas indissociáveis, porque sem o 25N o 25A imaginado pelos militares que o proporcionaram teria sido liquidado. As liberdades seriam para os membros do novo partido único, nova censura "revolucionária" seria imposta e os opositores encarcerados ou mortos (Otelo Saraiva de Carvalho até teve o desplante de nos avisar, tal foi o seu poder). Na área civil, para além, naturalmente, dos partidos do centro e direita (PSD e CDS), é da mais elementar justiça salientar o papel do Partido Socialista e do seu líder Mário Soares (faço-o com o à-vontade moral de nunca neles ter votado na vida). Mário Soares, apoiado obviamente pelo então chamado "Grupo dos Nove" da área militar, convocou-nos a todos, democratas, para comparecermos na Fonte Luminosa em Lisboa, que em 27 de Julho de 1975. Constituiu uma das mais bonitas e corajosas manifestações até então. É preciso recordar aos mais novos que, nesses tempos de golpismo de esquerda, um comício no Porto do CDS foi seriamente ameaçado e os seus militantes insultados e agredidos fisicamente. A própria Assembleia Constituinte, em 13 de Novembro de 1975, esteve cercada dois dias por operários da construção civil (manobrados pela CGTP comunista) e os seus deputados impedidos de sair. O poder estava na rua. E os heróis do 25N conseguiram vencer os golpistas. Agora, que se cumprem 40 anos dessa data inesquecível, nada mais natural do que na sede da democracia, que é a Assembleia da República, a data ser comemorada. É por isso muito triste, e até um sinal muito preocupante dos tempos que aí vêm, que este novo PS de António Costa, por um tacticismo a todos os títulos condenável, queira reescrever a história. Ao recusar a comemoração, finge que não houve uma tentativa de golpe totalitário, desconsiderando assim os valorosos militares que rechaçaram o golpe de 25N. E também os políticos, com destaque para o socialista Mário Soares, que soube estar no local certo, na hora certa. Costa hoje prefere estar com os inimigos do PS em 75. Que lhe faça bom proveito, porque aos democratas não fará com certeza.

Manuel Martins, Cascais

 

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