Cartas à Directora

O desconcerto ocidental na Síria

A Síria é um Estado independente com representação na ONU. Na sequência da chamada “primavera árabe”, a guerra civil desencadeou-se neste país  que até então primava por alguns valores positivos como o laicismo e uma vida cultural animada. A guerra civil surge rapidamente como um furacão em 2011/2012. Parecia uma reacção ao regime, devido à repressão personificada no líder Bashar Assad, foco de uma campanha de media internacionais que o comparam a Saddam Hussein. Mas depressa se vê na “oposição”, que surgiu envolta em aparências democráticas, a mais terrível ameaça terrorista, sectária, fanática, cruel, em nome do islão. O ISIL, ou “Estado Islâmico”, ou Daesh, e outros grupos de contornos semelhantes, como a Al-Nushra, são afinal o grosso da oposição ao regime e a Assad. E perante o terror proclamado como instrumento sem limites, nem fronteiras, como havia de reagir o regime? Pacificamente? Como reage agora o ocidente?

Feita a trágica experiência da Líbia, emperrada a “democracia” no Egipto, empatado o Afeganistão e caóticos o Iraque e o Iémen, como não ver a realidade? Alguns governos ocidentais atrasaram-se no diagnóstico, com um grande  sobressalto finalmente pela onda massiva de fugitivos da  guerra a caminho da Europa. Assad é o mau, depois tão mau como os oposicionistas, de seguida, ainda a distinção entre a oposição “moderada” e a “terrorista”; infelizmente,  a “moderada” quase não se vê a não ser nas conferências internacionais… Agora que a Federação Russa interveio,  a pedido do governo Sírio, na guerra aérea  contra os grupos terroristas, aqui d’el rei, que o monopólio de bombardeamentos pertence à coligação dos EUA, França, Reino Unido, e os soberbos exemplos de “democracia” da Arábia Saudita e da Turquia.  E os media (re)começam o seu concerto de protestos contra os maus ataques da Rússia, esquecidos dos efeitos colaterais dos seus nas mesmas paragens, ontem, hoje e amanhã.

José Manuel Jara, Lisboa

 

Touché!

Foi um prazer ler o PÚBLICO de [6/10]. Quem gostar de de inteligência na escrita, tenha ela o tom e o objectivo que tiver, não pôde deixar de se deliciar com os artigos de Paulo Rangel (O factor "estabilidade"), João Miguel Tavares ( A segunda vida de António Costa), o Editorial do jornal ( O jogo do gato e do rato), Teresa de Sousa ( A maldição da social democracia) e José Vítor Malheiros ( O voto inútil). Mas a emoção sinceramente expressa também está no diário e no "Cartas à Directora" através de Emanuel Caetano na sua missiva intitulada "Foi a vossa escolha", que diz bem do sem sentido do voto dos causticados pelo governo que "masoquisticamente" votaram em quem tanto os maltratou. Vou terminar, não sem antes relevar o tema tratado por Teresa de Sousa – a social-democracia – por ser a minha dor. Como é possível uma doutrina e sistema político quase "perfeito" ter-se entregue a devaneios auto destrutivos como foram os da terceira via? E isso leva-me a dizer a José Vítor Malheiros e ao que escreveu: touché! Realmente o meu voto foi  inútil.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

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