Cartas à Directora

O vencedor: Paulo Portas

Paulo Portas e o CDS irão ser, muito provavelmente, os grandes vencedores destas eleições.

Há 4 anos o CDS não tinha alternativa a não ser viabilizar o governo de Passos. E tinha se sujeitar ao mando de Passos e do PSD sob pena de desaparecer do mapa, caso fizesse cair o governo. Por várias vezes, esteve tentado a fazer cair o Governo, incomodado com as desconsiderações a que era constantemente sujeito, mas acabou sempre por ter de engolir o sapo

Acontece que, nos próximos 4 anos, tudo indica que, por força da coligação, o CDS irá conseguir uma representação parlamentar que passará a ter força negocial uma vez que não fica dependente do PSD para ser Governo. Mesmo que a coligação ganhe com maioria absoluta, o mais natural é o CDS poder formar maioria de Governo seja com o PSD seja com o PS. Os papéis, na coligação, vão inverter-se e vai passar Passos a ter de engolir alguns sapos... caso contrário, arrisca-se a ser posto na rua do governo. Paulo Portas sabe bem que a vingança é um prato que se come a frio.

Santana-Maia Leonardo, Ponte de Sor

 

Porquê votar PS?

Tenho acompanhado a evolução da campanha, e a subida da percentagem de eleitores votantes e não votantes dispostos a contribuir para a manutenção do "estado a que chegámos". É invocada de forma recorrente a falta de razões para votar, seja no PS seja em qualquer outro partido.

Sem me alongar, gostaria de deixar duas das razões por que vou fazer diferente:

- incomoda-me e envergonha-me viver num país que permite que haja dois milhões de pessoas em risco de pobreza. Não acho que seja uma inevitabilidade, e estou disposto a arriscar e a pagar por isso.

- parece-me inegável apesar do PS e da campanha, que António Costa será um melhor, mais honesto, mais credível, mais capaz de encontrar soluções, mais competente primeiro ministro do que Passos Coelho. O receio de que possa promover o regresso ao despesismo e ao descontrolo das contas parece-me injustificado, seja por virtudes próprias seja porque a conjuntura e a comunidade internacional nunca o permitiriam

Não tenho a pretensão de conseguir influenciar seja o que for, mas gostaria que se refletisse um pouco mais no que sucedeu no passado recente, e nas possíveis consequências do que vier a suceder no dia 4 de Outubro.

Fernando José Carvalho, Porto

 

O medo e o esquecimento são quem mais ordena?

Os portugueses estão com medo e nas sondagens os indecisos aumentam dia após dia. É um sentimento muito comum nas terras lusas e ficou-nos dos quarenta e oito anos de ditadura que tivemos. O medo nunca pode ser um bom princípio de vida, nem de cidadania. Atrás do medo vem o esquecimento e ambos se alimentam mutuamente. Esquecer os maus tratos, as mentiras, as tendências ideológicas por detrás dos discursos, faz dos portugueses um povo “sui generis”. Agradar aos de cima, pensar como eles para fingir que somos iguais, não querer mudar por inercia ou iliteracia política, eis o retrato de um eleitorado sofrido e alienado. A crise entrou pela porta das casas e das famílias, varreu esperanças e levou ao desespero de muitos. A tudo isto o povo se acomoda na ilusão quimérica de que os que provocaram esta situação lhes vão dar o que lhes tiraram. A Europa olha para Portugal com simpatia porque não lhes dá dores de cabeça e não os força a mudar de atitudes. Somos pacíficos e hospitaleiros – dizem entre eles. Esta bonomia da indiferença, esta apatia das causas comuns, levam à grande abstenção eleitoral e ao sentimento de que nada vale a pena. Mas este fenómeno já foi descrito há cem anos por Ramalho Urtigão, Junqueiro, Eça e tantos outros e chamaram-lhes os “vencidos da vida”. Será esta a sina dos intelectuais em Portugal? Ou seremos todos, como povo, uns vencidos à partida?

José Carlos Palha, Gaia

 

 

 

 

 

 

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