Cartas à Directora

Esta imagem indigna!

Escrevo na condição de leitor e de cidadão. Faço-o para manifestar de viva voz a minha indignação com a opção editorial seguida na edição do V. jornal de 3 de setembro de 2015, em concreto quanto à publicação da foto principal da primeira página.

Para que se registe, manifesto esta indignação após ter lido – com toda a atenção – o editorial em que se sustenta a opção de mostrar em primeira página a foto em questão. Tomo, enquanto leitor, a consciência de que a referida opção foi ponderada e consciente por parte da direção editorial do PÚBLICO. Devo também reconhecer-vos que não posso deixar de estar em acordo com parte (apenas parte!) dos argumentos utilizados para defender a opção seguida. Concordo que existem neste mundo demasiadas consciências adormecidas e, quiçá, uma mais que sobrante inação de cidadania. Concordo que cabe a uma comunicação social independente e imbuída de serviço público democrático contribuir para agitar as tais consciências adormecidas.

Mas, concordando com estes argumentos – e que são parte substancial do argumento do V. editorial de hoje – não posso concordar com a opção. Esta imagem indigna! E indigna mais que a palavra, seja dita ou escrita. Porque expõe, em minha opinião, a dignidade humana daquele pequeno ser a um nível inaceitável. Não expõe a indignidade da indiferença. Perdoem-me esta minha opinião frontal, mas não creio que a vossa opção possa ter contribuído para agitar consciências adormecidas. E, se o fez, a que custo? A que custo de dignidade? Quantos não terão – como até se reconhece no V. editorial – fugido com o olhar e, logo de seguida com a consciência. E, sendo assim, porque o terão feito? Terá sido porque preferem continuar adormecidas ou porque a exposição da morte na nossa cultura – porque não vivemos noutra! – repudia mais do que mobiliza? (…)

Eduardo Teixeira, Lisboa

 

Murro no estômago

Comprei hoje o "Público" sem olhar para a capa e em boa hora o fiz; o "murro no estômago haveria de me acordar a mim e a quantos iam no bus comigo e que deram de caras com a crueza da imagem da criança síria de barriga para baixo na borda dum mar distante daquele em que molhámos os pés aos domingos...

Deviam fazer-se cartazes desta vergonha colectiva dos que têm culpa por actos mais os que repetem a culpa... por omissão! Parabéns ao PÚBLICO pela coragem de não assobiar pró lado! 

Conceição Morais Mendes, Lisboa

 

Só existem dúvidas quando pensamos

Para além do símbolo-ícone do horror, que, hoje, nos atinge inexoravelmente, em que a fotografia daquele menino se transformou, queria, nestas minhas palavras, agradecer-lhe, como leitora do Público, o ter partilhado connosco as vossas dúvidas e perplexidades. Só existem dúvidas quando pensamos sobre os assuntos e a descrição de um percurso da dúvida à certeza ou, ainda que a dúvida persista, a uma escolha, é um desvendar de procedimentos que levam inevitavelmente a um muito melhor entendimento dos factos e sobretudo da vossa profissão. Oxalá que esses percursos de dúvidas e reflexões integrassem o dia-a-dia de todos os profissionais, nomeadamente os da informação.

M. Teresa Pacheco Pereira, Lisboa

 

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