Cartas à Directora

Os novos muros da vergonha

Passou já mais de um quarto de século desde a queda do Muro de Berlim, também conhecido como o Muro da Vergonha, talvez o símbolo maior do último regime ditatorial e repressivo que restava do século XX na Europa.

Ao contrário das grandes barreiras físicas que ficaram para a História, como as muralhas da China e de Adriano, o Muro de Berlim nunca teve funções defensivas. Os mais de 60 kms de betão, gradeamentos e cercas electrificadas que cercavam a parte ocidental e democrática de Berlim, tiveram exclusivamente a finalidade de estancar a fuga para o ocidente dos alemães descontentes com a submissão ao Kremlin e a supressão das liberdades políticas e de expressão. Na altura da sua construção, já 3.5 milhões tinham fugido da impropriamente chamada República Democrática Alemã.

Ainda assim, e até cair, o Muro faria ainda várias dezenas de vítimas entre os jovens mais corajosos e sedentos de Liberdade que o tentaram ultrapassar e caíram sob as rajadas das Kalashnikovs dos guardas com ordens para atirar a matar.

São hoje outros os muros da Vergonha Europeia.

Incapazes de agir como membros de uma União a que dizem pertencer, os responsáveis (?) europeus, cada um à vez e à sua maneira, gritando culpas aos vizinhos, vão tratando dos seus quintais, focados nos seus eleitorados e exclusivamente preocupados com as eleições que têm a seguir.

Parecem donas de casa a pôr redes mosquiteiras nas janelas, de chibata na mão, a correr de sala em sala, perseguindo moscas e mosquitos que lhe sujam as paredes e pousam sobre os alimentos.
Não são moscas e mosquitos, senhores!

São seres humanos e criaturas de Deus! São homens, mulheres e crianças cujo único crime foi o de terem fugido da Fome, da Violência e do Caos que os vossos exércitos não quiseram evitar ou, em certos casos, fomentaram até.

São seres humanos que apenas desejam viver com um mínimo de Dignidade.

Cristãos? Civilizados? Os senhores?

Helder Pancadas, Sobreda

 

A grande invasão da Europa

Não se trata da invasão dos bárbaros, mas da fuga de milhões de seres humanos, vítimas da fome, das perseguições políticas e religiosas, dos assaltantes, violadores e ladrões, vindos de países sob ditaduras políticas, religiosas ou militares.

Será humano recusar abrigo, alimentação, carinho e trabalho a essa gente desesperada que enfrenta a morte por uma réstia de vida com dignidade? 

Claro que não! Mas quando se trata de uma avalancha de milhões que poderão transformar a vida dos europeus num inferno, será urgente que todo o mundo democrático, industrializado e civilizado, destitua in loco os grandes causadores destas misérias e deixarem que os seus povos tomem conta dos seus governos e do seu bem-estar. Não apareça por aí um novo Hitler que faça destes migrantes um novo e vergonhoso holocausto.

Duarte Dias da Silva, Lisboa

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