Cartas à Directora

Magia

Escrevo a propósito do discurso que Jorge Sampaio proferiu há poucos dias quando recebeu o Prémio Nelson Mandela ("consagração mundial de uma vida ao serviço da liberdade, da justiça e da democracia, no terreno concreto das grandes causas em que as Nações Unidas se envolvem).

Disse que o aceitou em nome de “milhões de pessoas comuns que por todo o mundo nunca desistiram das suas esperanças e sonhos (...); as verdadeiras nomeadas para este prémio (...);  ”anónimos que trabalham contra tudo e contra todos”; “inúmeros voluntários”; “homens e mulheres, muitas vezes sem estudos, que garantem cuidados de saúde primários em bairros de lata, zonas rurais remotas”; “ pessoas admiráveis empenhadas na construção de sociedades inclusivas, tolerantes e plurais; “capazes de compaixão, esperança, resistência, orgulho e sacrifício”. 

Sampaio conclui, descobriu, que é fundamental “polvilhar a vida pública e as relações internacionais” com um pouco de magia, e que essa magia existe em cada um nós.

Permitam-me uma pergunta inocente e tola: por que é que não há um notório reconhecimento e prémios entregues a esses anónimos, voluntários, homens e mulheres (muitas vezes sem escolaridade), ou seja, pessoas admiráveis e que operam milagres ou fazem magia, em nome das quais Sampaio recebeu o prémio Mandela?

Céu Mota, Sta Maria da Feira

A detenção de Salgado

O Ministério Público aparenta discordâncias no que à detenção de Salgado, determinada pelo juiz Carlos Alexandre, diz respeito. Aos portugueses tal facto não merece comentários pois os mesmos,  em si, não são do seu conhecimento e, para mais confusão, já basta a que temos a todos os níveis. No entanto a modalidade de detenção aplicada já carece de considerações e análise fria. Se o objectivo era assegurar a máxima vigilância sobre o “dono disto tudo”, evitar fugas, contactos e outras formas de continuar a “fintar” os investigadores, a solução primeira seria, talvez,  a prisão e, na alternativa, a detenção domiciliária com pulseira electrónica. A solução encontrada pelo juiz Carlos Alexandre gere, para já, um significativo custo financeiro que a todos nós vai corresponder. Oito agentes da PSP, diária e permanentemente, a vigiar o arguido, quando a sua presença é tão necessária na defesa dos cidadãos, além dos custos já referidos não garante eficácia tendo em vista o que é pretendido. A verdadeira mansão onde vive Salgado tem, certamente,  além das gigantescas dimensões da área que ocupa, condições, zonas e labirintos secretos, que o seu proprietário pode usar quando e como quiser. Por isso parece ter sido “ingénua” a decisão se o objectivo é “manietar” e “isolar” Salgado dos contactos com amigos, correligionários e “companheiros” da tenebrosa teia em que colocaram o nosso país. Sem pessimismo na previsão o que, para já é previsível, isso sim, é que o desfecho desta “novela” não vai acabar bem. Que se preparem os portugueses, tendo em conta tristes exemplos de um passado recente.

Carlos Morais, Lisboa

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