Cartas à Directora

Grécia: (re)acordar (para) a Democracia

Há 2500 anos, foi a Grécia que acordou a Europa para a Democracia.

Gradualmente (ainda que irregularmente), no espaço e no tempo, a Europa e o mundo foram dando os primeiros passos e depois, caminhando-o, foram fazendo o caminho da Democracia.

Há mais de dois séculos, com passos mais resolutos e pensamento mais desperto para um trajecto de “governo do povo pelo povo e para o povo” (Abraham Lincoln, 1852), ainda que, mais recentemente, no século passado, de forma  mais letárgica (com ditaduras, como em Portugal e não só) ou, mesmo, com pesadelos horríveis (duas guerras mundiais).

Entretanto, a Europa acordou destes pesadelos e, muito para os exorcismar e prevenir a sua repetição, (re)lembrou-se de Lincoln e das circunstâncias em que ele então proferiu aquela frase. E resolveu prosseguir um projecto de trajecto (ainda) mais colectivo da democracia – uma “comunidade europeia”, agora União Europeia.

Contudo, pelo menos nos últimos 20 anos (e especialmente nos últimos dez), a Europa, pelas suas instituições e lideranças da União Europeia, caiu de novo num sono letárgico (senão em coma) para a Democracia e até, em geral, para a Política (com maiúscula).

Drogada pela buro-tecnocracia, pelo neoliberalismo e pelo financeirismo humana e socialmente (e até economicamente) estéril, deixou de ser uma Europa “do povo, pelo povo e para o povo”.

E, agora – vejam bem! –, é novamente a Grécia que clama bem alto e dá o exemplo de se se levantar democraticamente, tentando (re)acordar a Europa para a Política, para a Democracia com um mínimo da essência e da substância de há 2500 anos.

João Fraga de Oliveira, Sta Cruz da Trapa

Porque não sou grego!

Os gregos expressaram nas urnas o seu direito de não aceitar as condições do resgate financeiro. Mas eu hoje não sou, nem quero vir a ser grego, porque os pesadíssimos sacrifícios que o povo português já sofreu, não podem ser ainda mais agravados com novas responsabilidades financeiras por qualquer eventual nova redução da dívida grega. Os portugueses, que também tiveram um resgate financeiro, pagaram com "língua de palmo" as suas responsabilidades, e mesmo assim, o valor muito elevado da dívida total face ao PIB, faz com estejamos ainda no fio da navalha. Seria absolutamente imoral, eu diria obsceno até, que lá porque a Grécia não aceitou fazer as reformas que tivemos de fazer, nós teríamos agora de pagar a nossa quota-parte de um novo perdão da dívida grega. Como sabiamente diz o povo, cada um faz a cama em que se deita. Não estou a ver, sinceramente, como os contribuintes alemães irão poder aceitar voltar a contribuir do seu orçamento para pagar as ineficiências, a desorganização, o despesismo, a corrupção, a economia informal que grassam na Grécia há décadas. É verdade que a Grécia, tal como Portugal, nunca deveria ter sido aceite no euro, mas agora tem que cumprir com as regras, caso contrário a descredibilização que isso acarretará será a falência da própria União Europeia. É por isso absolutamente natural, que além da Alemanha e de outros países do Norte, que têm conseguido resolver os seus próprios problemas originados pela crise financeira de 2008, Portugal, e eventualmente a Irlanda e Espanha, digam rotundamente que não a um eventual novo perdão da dívida grega.

Manuel Martins, Alandroal

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