Cartas à Directora

Salvem o gato, mas…

Nesta história da "Queima do Gato" confesso algumas irritações. A primeira é a de colar esta chamada barbárie ao "pacóvio" do aldeão, em comparação à suprema civilidade do citadino: que esconde a miséria humana em guetos residenciais; que mostra um indisfarçável enfado pela insistência diária do pedido de uma moeda no estacionamento da praça, que chuta caixas de cartão, único lar dos sem-abrigo, da entrada do prédio onde habita, que aprisiona pássaros, passarinhos e passarocos em minúsculas gaiolas, que enclausura cães e gatos numa varanda de um metro quadrado e os abandona todos os verões no ermo ou na estrada bem distante… Uma outra exasperação é a quantidade de desaforos para as gentes da aldeia vertida na forma de insultos nas redes sociais, nos depoimentos entusiastas e militantes de virtude e moral dos programas de rádio e televisão, que me apetece lembra-lhes as palavras do Nazareno: “aquele que nunca pecou atire-lhe a primeira pedra”... Por último a desproporção da natureza do ato, lamentável sem dúvida, perante situações mais preocupantes da condição humana e que toma índices alarmantes da convivência misericordiosa: o abandono dos idosos nos hospitais e lares de terceira idade, a violência doméstica, o genocídio perpetrado no terrorismo e na falta de acolhimento dos apátridas. Pois salvem os gatos, mas não se esqueçam também de salvar alguns homens.

José Mesquita, Carrazeda de Ansiães

 

Bate punho político

Parece que o vice-presidente do PSD, Marco António Costa, apelou aos socialistas para moderarem a linguagem em relação ao Governo pois utilizaram palavras  como "mentir", "burlar" e "falsear". Quanto ao "mentir", há um engano, não é a oposição que diz isso, são os próprios portugueses que descreveram o primeiro-ministro como "mentiroso", numa recente sondagem da Universidade Católica para a RTP. Talvez se lembrem das promessas feitas por ele no período que antecedeu a sua chegada ao Governo: de que era "um disparate acabar com o 13º mês", que "aumentar o IVA não tinha fundamento", que o PSD chumbou o PEC 4 porque a "austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento" e de que "não se põe um país a pão e água". Bate punho o porta-voz do PSD, amansando os seus correligionários que estão mudos acerca da investigação do Ministério Público sobre si na sequência de denúncias públicas de um militante, e também com o relatório da auditoria do Tribunal de Contas que arrasa a sua gestão como vice da Câmara de Gaia, entre 2008 e 2012, merecendo "um forte juízo de censura".  

Emanuel Caetano, Ermesinde

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