Cartas à Directora

Sexagenários sem partido uni-vos!

Somos sexagenários e, no panorama político atual, estamos sem partido em quem votar. Somos maioritariamente de esquerda, porque soubemos o que foi a ditadura e a guerra colonial e ainda eramos sonhadores pois queríamos mudar a sociedade e o mundo. Fomos marxistas, leninistas, maoistas, trotskistas, eu sei lá que mais, e passamos também a ser ateus para estarmos de acordo com o "ar do tempo". Vivemos intensamente o 25 de Abril e, cada um a seu modo, apoiou este ou aquele partido de esquerda, ao longo de tantos anos.

Hoje estamos desiludidos, já não acreditamos em "amanhãs que cantam" e muitos voltaram a crer em algo que transcende a condição humana e que pode ter muitos nomes, mas uma só morada. Não acreditamos no Partido Socialista (PS) - seja ele qual for no futuro próximo - porque meteu as promessas na gaveta e deixou-se levar pelos enredos do poder do capital e pela promiscuidade com o mesmo. No Partido Comunista vemos a sua importância como resistência ao avanço do capitalismo selvagem e no enquadramento político das várias e diversificadas manifestações de descontentamento popular, mas não acreditamos no seu apego à democracia participativa e no seu projeto político estatizante. No Bloco de Esquerda vemos ao espelho o que já fomos e temos sentimentos de simpatia, apenas nostálgica, pelo seu radicalismo de protesto inconsequente. No Partido dos Animais e da Natureza (PAN) simpatizamos com a necessidade de aliar ao projeto politico os valores espirituais - radicados ou não no budismo - mas não concordamos com o seu "fanatismo" pela causa animal, como expressão pública, quase única, da sua atividade politica. Nas novas formações como o Livre e o Manifesto do Daniel Oliveira e da Ana Drago, vemos um esforço de libertação da arcaica esquerda, mas gostaríamos de ver ultrapassada a velha canga do racionalismo materialista. Se nós pudéssemos, juntaríamos os aspetos mais espirituais do PAN, com a faceta da democracia participativa do Livre e afins, mais a parte mais sã do PS, aquela que ainda não está comprometida com os jogos de poder político e financeiro. A seguir juntávamos uma pitada de gente credível pela competência e honestidade - sempre é preciso algum marketing político - uma boa dose de realismo e de bom senso e levavamos tudo às urnas de voto.

Talvez saísse uma bela alternativa de esquerda para nos governar! Quem sabe se esta receita não poderá acontecer?!

José Carlos Palha, Gaia

 

A municipalização da educação

Sendo do conhecimento público que a contratação de pessoal nas autarquias, mesmo por concurso público, é totalmente viciada, ao ponto de se saber sempre quem ganha o concurso antes dele se realizar, a proposta do Ministério da Educação e Ciência (MEC) de entregar a gestão da Educação aos municípios não pode deixar de revoltar e indignar todos aqueles que defendem que os professores devem ser escolhidos com base no mérito e não na cunha ou no cartão partidário.

E não se venha com o exemplo dos países do norte da Europa porque, nesses países, as provas de acesso não são facultadas antecipadamente aos favoritos do senhor presidente, quando não são mesmo os vencedores antecipados a elaborar os próprios enunciados das provas, nem tão-pouco estes têm acesso às provas depois de as mesmas se realizarem com vista a completar algumas respostas. E não vale a pena os hipócritas fingirem-se escandalizados com o que acabo de afirmar porque toda a gente sabe que é assim que as coisas funcionam. E não é só nos concursos. É em tudo.

Santana-Maia Leonardo, Abrantes

 

 

 


 


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