Cartas à Directora

Não sei se é Abril

Não sei se a seara secou, se o vento passou, mas longe de mais. Não sei se morreram os sinais, os sonhos ou as ilusões…

Mas sei que há sempre alguém que semeia, ao vento que passa, canções!

Não sei se é maior a mordaça, se há olhos hoje que vejam o amanhã. Não sei se tudo isto foi azar ou se é ainda sorte…

Mas sei que não há morte para o vento, não há morte!

Não sei se ainda hoje se pensa o futuro, se vale a pena a diferença em o pensar. Não sei bem o que vale este momento…

Mas sei que não há machado que corte a  raiz ao pensamento!

Não sei, afinal, se é de Abril este lamento!...

José Carlos Palha, Gaia

 40 anos – continuarei a acreditar

Continuarei a acreditar que os valores defendidos em Abril irão florescer e que homens e mulheres de Bem tomarão as rédeas do nosso Governo; continuarei a acreditar que no meu País a Paz continuará a ser uma realidade; continuarei a acreditar que a arma que temos na mão – o voto – em breve será bem utilizado; continuarei a acreditar que depois destes longos tempos de borrascas “o sol brilhará para todos nós” e que haverá empregos para todos; continuarei a acreditar que alcançaremos “o pão, a habitação, a saúde, a educação” e que os nossos emigrantes voltarão para um Portugal de oportunidades; continuarei a acreditar que o nosso interior deixará de ser desertos de ruínas, que os nossos campos serão lugares de trabalho e produção, que o nosso mar será explorado por barcos nossos e que haverá fábricas para produzir as máquinas que nos irão ajudar a fixar os nossos jovens neste território que tem quase 900 anos de muitas histórias e lendas.  

Continuarei a estar na rua a apoiar todos aqueles que pedem a estes governantes que deixem de ouvir só as  ordens de estrangeiros e oiçam as propostas dos que sabem transformar as necessidades do Povo em regras que trazem o progresso e a Esperança ao nosso País. Continuarei…e tu, Amigo, vem também – “tu sozinho não és nada
juntos temos o mundo na mão”. 

Maria Clotilde Moreira, Alges

E depois do Abril

40 Anos depois, o acontecimento “25 de Abril”, que podia e devia ser consensual, continua a perder valor para quem não o viveu, desvalorizado pela politiquice entre pretensas apropriações e usurpações. E há demasiada nostalgia e lamentação. Nostalgia do antes, do respeitinho, nostalgia do depois, das canções de intervenção e até do PREC. E há lamentos. Lamento do 25 de Novembro, lamento das nacionalizações, lamento da descolonização, etc.

Tudo isto fica pela rama. O dia em si é/foi um dia fantástico e, bom ou mau, o nosso quadro sociopolítico actual não é tão diferente dos outros países que não tiveram uma PIDE, uma guerra colonial, um programa brutal de nacionalizações e outras particularidades. Neste ponto de vista o pós-revolução correu bem. O espírito do dia 25 de Abril foi cumprido e evoca-lo ou invoca-lo 40 anos para ultrapassar os problemas actuais é um sebastianismo rubro.

O que correu, e corre, mal não pode ser atribuído a esses episódios simbólicos que a esquerda e a direita hasteiam, seja pela positiva, seja pela negativa. Esses episódios são as árvores na frente da floresta. Se não tivessem existido, outros lhes teriam tomado o lugar. Nostalgia e lamentação ao jeito de um Brasil que considera não ter a pujança dos EUA por terem sido descobertos/colonizados por um latino e em vez de um anglo-saxão é preguiça e assumir a preguiça. O que corre mal é deficiência de atitude, é a desonestidade material e intelectual e o oportunismo. Subindo na cadeia de razões e procurando a causa primeira, esta será: seriedade. Daí para a frente tudo será possível.

Sejamos, portanto, sérios e sem preguiça olhemos e tratemos do que faltou depois do 25 de Abril e que ainda hoje falta. Para isso não precisamos de comemorações nem de nova revolução, bem pelo contrário. Precisamos de encarar e agir no dia-a-dia a sério sem suspiros nem lamentos.

Carlos J F Sampaio, Esposende

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 
 

 

 
 

 

 
 

 

 

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